Quando tinha quinze anos estava convencida de que sabia tudo.
Mais tarde vim a aprender o quanto ainda havia para saber, como as minhas convicções precisavam de ser limadas, como não podia nem queria saber tudo.
Aos vinte e oito anos embarquei na maior viagem da minha vida, a maternidade, sem dúvida a maior escola que “frequentei”.
Há um ano tornava-me mãe. Há um ano acrescentava o ponto mais importante à minha folha de serviço. Há um ano redescobri os afectos, acrescentei-lhes novos dados, novas vivências.
Ser mãe é, para cada pessoa, uma experiência única, pessoal e intransmissível. No meu caso tem sido tudo isto:
Amor
Puro, sem cobranças, com alguns receios, mas sempre com toda a entrega.
Orgulho
De acompanhar o crescimento da minha filha, das pequenas conquistas que vai tendo, da personalidade que se vai formando.
Compaixão
Quando se magoa, quando faz algo que não compreende que vai correr mal, quando se exaspera porque está cansada.
Companheirismo
Passámos todos estes 365 dias juntas. Não houve nenhum dia em que não acordássemos com um abraço de bom dia, que fossemos para a cama sem um beijo de boa noite uma da outra. Desde os primeiros dias andei por todo o lado com a minha filha no sling, depois no carrinho e ao colo, agora pela mão. É a minha maior companheira, conhece-me no meu melhor e faz com que o meu pior não surja muitas vezes.
Partilha
Falo-lhe de tudo, mesmo daquilo que não compreende. Dá-me os brinquedos, as bolachas, partilha comigo gargalhadas e choro. Dança quando canto. Sorri quando faço caras estranhas. Assusta-se quando estamos em silêncio e falo com ela sem estar à espera. Faz-me festinhas e chama-me “mamã”. Levanta-se de um pulo quando me vê chegar à creche. Lemos livros juntas. Apontamos os carros e os cães na rua.
Tocamos na superfície das árvores e descobrimos famílias de formigas que andam em carreirinhos. Cheiramos as flores, tocamos a areia da praia. Fazemos bolinhas de sabão à janela e vemos o vento ser implacável com elas. “Lutamos” uma com a outra para pôr a fralda com ela deitada (já só quer estar de pé), numa dança de paciência.
Paciência
Mesmo quando tudo indicava que não haveria tanta paciência assim. Para quando leva o seu tempo a adormecer. Para quando quer brincar em vez de comer. Quando quer brincar com algo que não pode. Quando chora sem razão aparente. Quando claramente está aflita com os dentes. Paciência dela quando estou mais stressada, com mais pressa, menos inspirada. “Apacientamo-nos” (acabo de inventar o verbo) uma à outra.
Diversão
Voltei a ser criança com a minha filha. A ver o mundo pelos seus olhos. A fazer cócegas desenfreadamente. A despentear o cabelo para a divertir. A divertir-me com a surpresa dela em relação ao mundo. A cantar em falsete e a dançar em cima do sofá com coreografias malucas.
Há trezentos e sessenta e cinco dias que acordo com um sorriso.
Que me tornei campeã olímpica na limpeza de bolsados e troca de fraldas
Que tenho preocupações realmente prementes.
Que uso menos saltos altos e brincos compridos.
Que faço sopas duas a três vezes por semana.
Que presto mais atenção à proveniência das frutas e legumes.
Que recordei músicas e histórias antigas.
Que amo ainda mais o meu namorado por ser o pai que é e pela família que temos.
Que amo ainda mais o meu pai e a minha mãe, que os compreendo melhor, que os admiro infinitamente mais (e eu pensava que não era possível).
Que compreendo o cansaço do meu irmão desde que foi pai – e também o admiro muito pelo pai que é.
Que vejo uma onda de amor à minha volta provocada por uma menina de olhos grandes e sorriso delicioso, que não faz a menor noção de quanto é amada.
Ser mãe ou pai não é para todos. Dá trabalho, precisa de tempo, de amor, de disponibilidade.
Gostava que o facto de alguém ter sido pai ou mãe tivesse o mesmo efeito nessas pessoas que teve em mim – sou (sinto-me) uma pessoa melhor.
É a minha filha que faz anos e todos os parabéns são mais que merecidos. Mudou completa e inequivocamente a minha vida para melhor.
Para sempre.
Por Marta Coelho, para Up To Kids®
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Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!