Há dias assim. Há dias que as histórias nos aparecem como cogumelos, como se tivessem de vir ter connosco para que possam finalmente ser contadas. Hoje foi um dia assim.
De repente surge a história de uma mãe, que depois de um divórcio conturbado tem a cabeça e a vida da sua filha completamente minada pelo que o pai lhe diz. Surge em catapulta a história de outra mãe, que não tem qualquer contacto com o seu filho porque o pai condiciona a imagem que o mesmo tem da mãe. Um pouco mais tarde, recebo um telefonema de um pai que precisa de ajuda, porque a mãe do seu filho continua a dizer mal do pai ao filho. No meio destas histórias recordo uma outra, de um pai que procurava ajuda psicológica para conseguir lidar com a questão de alienação parental. Sim, a estas histórias damos o nome de alienação parental.
A alienação parental é o afastamento do filho de um dos progenitores provocado pelo outro, tendo origem no verbo latino “alienare” que significa afastar. Contudo, a alienação parental (PAS, parental alienation syndrome, ou SAP, síndrome de alienacão parental) não é um fenómeno recente. Podemos afirmar que será tão antiga quando a existência da regulação do poder parental aquando de um divórcio. Na verdade, as feridas resultantes do rompimento duma relação conjugal são muitas vezes difíceis de ultrapassar, levando tantas outras vezes à necessidade de magoar o outro a quem se imputa culpa na separação, e que acaba por determinar, consciente ou inconscientemente, que o progenitor que tem a custódia do filho a usar este poder, por forma a atingir o outro progenitor, punindo-o com o afastamento do(a) filho(a) ou incutindo neste, sentimentos negativos contra aquele.
No decorrer da vida destas pessoas que escolheram os seus companheiros com o objectivo de criarem uma família estável, organizada e cheia de amor, algures, não sabemos quando nem como, duas pessoas entraram em conflito, e uma delas, concentrada na sua frustração, focada na sua dor e mágoa, esqueceu-se que há uma criança. Uma criança que não pediu para nascer, não pediu para ter aqueles pais, e muito menos, para ter nascido numa família que, algures no tempo mais uma vez, se esqueceu que ela existia. Digo esqueceu, porque efectivamente, se tal não acontecesse, tínhamos pais que pensavam acima de tudo no bem estar desta criança e na sua saúde mental, e só depois na sua frustração, na sua mágoa, na sua dor.
Poderia centrar-me nos pais, mas não vou fazê-lo (noutro artigo o farei). Vou centrar-me nos que não escolheram esta história de vida. Nas crianças e jovens cujas cicatrizes irão ficar marcadas nas suas vidas, não pedidas, e que irão condicionar o adulto que serão no futuro. Um dia, uma destas crianças disse-me, em consulta, que eu era uma espécie de médica de cirurgia plástica da mente, porque eu “tratava de cicatrizes do coração e da cabeça”. Custa muito perceber, ainda que psicóloga, que é assim que se sentem….vazios, perdidos, confusos, mas com a noção de que nada disto seria suposto. Seria suposto sim, que esta criança ( crianças e jovens) apreendesse destes adultos significativos (seus pais), os seus super-heróis, que quando temos um conflito, conversamos, reflectimos, somos empáticos com a dor do outro, e resolvemos as coisas pacificamente. Seria suposto que estas crianças e estes jovens, apreendessem destes adultos significativos, os seus super heróis, o que é ser adulto, o que é viver em sociedade, e acima de tudo, como se relacionam com o outro.
Peço a todos os pais e mães, que ao passarem por situações de divórcio, se centrem nos seus filhos, nas suas necessidades, em não deixar sequelas nas suas vidas, no seu crescimento emocional e psicológico saudável. Peço algo tão simples como, amem os seus filhos!
Sejam verdadeiramente os super heróis da vida deles.
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