Os Pais devem ter a noção de que os filhos não serão todos Ronaldos.
“Ou então, que sejam Ronaldos no trabalho, na persistência e na abnegação!”
Eu ganhava sempre o jogo!
Claro, a bola era minha. Além disso, por sorte, os meus pais eram mais flexíveis nos horários, e eu podia ficar na rua até mais tarde.
Golo! Golo do Xanico! Eu ganhava sempre. Até porque, às tantas, já não havia equipa adversária, já tinham ido todos para casa.
É fácil marcar numa baliza deserta. Principalmente se os postes são pedras.
Pelo país, em várias Escolas de Futebol, é triste ver alguns Pais a incentivarem os filhos, nos treinos e nos jogos. Bem, “incentivarem” não será a palavra mais correta. Há Pais que se transformam. Há uns que gritam. E gritam palavras que nem posso aqui dizer. E, talvez sem saberem, estão a fazer um péssimo trabalho. Colocam a criança no centro de tudo, como se não existisse mais mundo. Exigem do treinador que lapide aquele diamante em bruto. Só vêm faltas a favor.
Os Pais devem ter a noção de que os filhos não serão todos Ronaldos. Ou então, que sejam Ronaldos no trabalho, na persistência e na abnegação!
A sorte que eu tinha, não passava pelos só meus horários flexíveis. O meu pai sempre disse : “Não tens jeito nenhum para a bola!”. E isso fez-me bem. Elogiavam-me nas coisas em que era bom, principalmente se me esforçasse.
A psicóloga Carol S. Dweck, no seu livro Mindset : The New Psychology of Success, alerta para os perigos do elogio.
Carol S. Dweck ajuda a entender que:
– Há que centrar o elogio no esforço, no processo, e não na inteligência ou no “jeito natural”. No desporto, como noutras áreas da vida.
– Há que usar os erros como oportunidades. O desporto serve, em larga medida, exatamente para isto! Mas, demasiadas vezes, só se valorizam as vitórias, os golos e as defesas, numa precessão dos objetivos mais nobres.
– Há que ser arrojado nos objetivos. Há que sonhar. Mas o processo, a ética e o empenho, são o mais importante.
Rio-me sempre quando me recordo de uma entrevista ao jogador Mário Jardel, um grande ponta de lança. O jornalista perguntava se a irmã dele também tinha talento para o futebol. E ele responde: “Talento? Talento? Ela tá é lenta…”.
Os nossos filhos não podem ganhar sempre.
Nem podemos olhar para eles e pensar que vão ser o que não fomos, só porque tivemos uma lesão. Eles não podem ter talento para tudo, às vezes, como diz a irmã do outro, estão é “lentos”!
Eu ganhava sempre o jogo, mas sabia que não merecia. Isso fez com que treinasse muito. Na vida, porque no futebol, nunca teria hipótese.
Agora a minha filha mais nova? Áh, essa vai ser um Ronaldo… 😀
A criação do Mundo Brilhante permite-me visitar escolas de todo o país e provocar os diferentes públicos para poderem melhorar. Agitamos. Queremos deixar marcas.