
O filho não dá o que a relação não tem.
O filho não dá o que a relação não tem.
Os filhos que salvam casamentos.
É do conhecimento geral que os filhos são “O” desafio de muitos casamentos. Por muito estável e segura que seja a relação. Por muito saudável que seja a comunicação. Os filhos são um desafio na medida em que têm vontades e desejos próprios, forças, fraquezas, desafios e sonhos.
Quando somos pais, apesar de inevitavelmente amarmos os nossos filhos, é com o tempo que os vamos conhecendo e a cada dia vamos também reconhecendo quem somos e aquilo em que nos tornámos. Porque depois dos filhos não somos as mesmas pessoas e não importa se é o primeiro ou o quinto.
Ter filhos implica estar disponível e vulnerável para a mudança. Para o crescimento.
Por isso nunca entendi muito bem a estratégia de alguns casais “terem filhos para salvarem casamentos”. Casais que acreditam que os filhos salvam casamentos.
O filho não dá o que a relação não tem.
Nem o filho fará, aquilo que nós, em última análise não conseguimos fazer. E sublinho, podemos ter a relação mais saudável do mundo mas haverá sempre um momento em que discutimos pela marca das fraldas, pela alimentação, pela quantidade de brinquedos ou pela forma como adormece. Porque casais saudáveis fazem isso. Discutem.
Ajustam. Com frequência. E está tudo bem.
Quando um casal não está bem qualquer um destes pontos se pode tornar num verdadeiro tsunami.
Sim há também momentos em que nos derretemos e adormecemos embevecidos a olhar para aquele rosto angelical. Mas quando o nosso casamento/ relação esta por um fio, conseguiremos nós ver o copo meio cheio? Se sim, ótimo. Talvez não estivesse mesmo por um fio.
Os filhos são megafones, amplificadores de coisas boas e de dificuldades.
Fazem ressoar em nós os nossos medos, fraquezas e dificuldades. Tantas vezes quando olhamos para eles vemo-nos a nós. São esponjas pequeninas que absorvem e espelham aquilo que muitas vezes não quisemos ver – e que por vezes tanto tempo levamos a aceitar.
Um filho é a melhor coisa do Mundo.
Mas também é isto. É dor, é medo, é cansaço. Aceitar o lado maravilhoso de ter filhos é aceitar também esta parte. São duas faces de uma mesma moeda. Ter filhos para salvar algo que está perdido coloca nesta tarefa uma maior carga, e aumenta exponencialmente o seu grau de dificuldade.
Fazê-lo e dividi-lo com o nosso companheiro de vida é fantástico mas implica disponibilidade para o crescimento conjunto.
Os filhos podem melhorar a relação entre o casal. Mas os filhos não salvam casamentos.
Podem fazer com que olhem um para o outro com uma maior admiração. Com que se (re)apaixonem. Que encontrem alegrias e medos comuns. Com que se aproximem. Com que cresçam.
Mas os únicos filhos que salvam casamentos, são aqueles que não nascem para o fazer!
Mãe de uma menina de 3. Licenciada em Terapia Ocupacional. Com Pós Graduação e Especialização na área da Intervenção Familiar.
Certificada em Parentalidade e Educação Positivas e em Inteligência Emocional e Social. Com formação avançada em aconselhamento parental. Apoia crianças e famílias no reconhecimento das suas emoções e na construção de relações mais positivas e saudáveis.