
Os gadgets deixam as crianças mal-humoradas e sem energias
Os gadgets deixam as crianças mal-humoradas, chateadas e sem energias.
Esta afirmação não é novidade nenhuma.
Quem tem filhos que passam horas à frente dos aparelhos eletrónicos e se deu ao trabalho de observar o comportamento deles quando se “desconectam”, notou com certeza certas alterações.
As crianças que veem televisão ou estão a jogar nas consolas ou nos tablets durante algum tempo seguido, sem interrupção, estão mais cansadas e mal-humoradas. Respondem torto e de forma tendencialmente agressiva. E estão num estado contraditório de alta agitação e exaustão difícil de gerir.
“O tempo passado à frente dos gadgets reduz a exposição aos elementos que naturalmente aumentam o bem estar e o estado de espírito da criança.”
Victoria L. Dunckley, M.D. (psiquiatra integrativa, especialista nos efeitos dos ecrãs no desenvolvimento do sistema nervoso e autora do livro “Reinicia o Cérebro do teu Filho”) fala em 6 mecanismos fisiológicos que explicam porque os aparelhos eletrónicos geram distúrbios de estado de espírito e alterações comportamentais.
Nos últimos anos têm aparecido vários estudos que alertam sobre o efeito dos gadgets no nosso cérebro e no nosso corpo, com especial nota para o caso das crianças. Os especialistas avisam que os altos níveis de excitação afetam a memória e o relacionamento. Isto dá origem a dificuldades escolares e sociais.
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Os gadgets perturbam o sono e dessincronizam o relógio biológico
A luz dos ecrãs imita a luz do dia, o que determina o nosso corpo a suprimir a produção de melatonina.
A melatonina é a hormona que regula o nosso sono e que o nosso corpo produz na presença do escuro. Apenas alguns minutos de estimulação de um ecrã pode retardar a produção de melatonina por algumas horas e dessincronizar o relógio biológico da criança. Isso desencadeia outras relações dentro do corpo, como o desequilíbrio hormonal, uma vez que a excitação não permite ao corpo mergulhar no sono profundo e reparador que precisa para recarregar energias.
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Os ecrãs viciam o cérebro
Muitas crianças ficam viciadas nos aparelhos eletrónicos. O ato de jogar liberta tanta dopamina (o neurotransmissor do “bem-estar” que o nosso corpo produz) que ao realizarmos uma imagem do nosso cérebro naquele momento, é muito semelhante à de um cérebro sob efeito da cocaína. À semelhança do que acontece com os outros vícios, quando o cérebro recebe dopamina em excesso, os seus recetores tornam-se cada vez menos sensíveis e é necessário um estímulo mais intenso para sentir o mesmo nível de prazer.
No entanto, uma vez que a dopamina é fundamental para o nosso foco e motivação, é totalmente compreensível que qualquer pequena alteração na sensibilidade à esta hormona pode alterar profundamente a forma como a criança se sente e funciona.
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O ecrã expõe o corpo à luz durante a noite
A luz produzida pelos gadgets tem sido associada com estados depressivos. Inúmeros estudos demonstraram que a exposição a este tipo de luz antes ou durante o sono causa depressão, mesmo quando não se está a olhar diretamente para o ecrã.
Por vezes, os pais estão relutantes ao restringirem o uso dos eletrónicos, cedendo assim às insistências dos seus filhos. O que é um facto é que remover o acesso a esta luz, principalmente no final do dia e de noite, é algo que os protege de várias formas a longo prazo.
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Os ecrãs induzem reações de stress
Tanto o stress agudo (reações do tipo luta ou foge) como o stress crónico produzem alterações na química cerebral e geram hormonas que aumentam a irritabilidade. A produção de cortisol, a hormona do stress crónico, aparenta ser a causa e o efeito da depressão, criando um ciclo vicioso. Adicionalmente, tanto a excitação aguda e o vício suprimem o funcionamento normal do lobo frontal. O lobo frontal é a área do cérebro onde é realizada a regulação do nosso estado de espírito.
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Os ecrãs sobrecarregam o sistema sensorial, quebrando a atenção e gastando as reservas mentais
Os especialistas dizem que o que está frequentemente na origem de um comportamento explosivo e agressivo é a falta de concentração. Quando a atenção sofre, sofre também a habilidade de processar o que acontece interna e externamente, pelo que, as pequenas solicitações tornam-se tarefas enormes. Desgastando a energia mental com estímulos visuais e cognitivos, os ecrãs contribuem para a redução das reservas mentais.
Uma forma de as aumentar temporariamente é tornando-nos agressivos, pelo que as birras são de facto um mecanismo de lidar com esta escassez.
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Os ecrãs reduzem os níveis de atividade física e a exposição à natureza
O tempo passado ao ar livre, principalmente em contacto com a natureza, restaura naturalmente a atenção e diminui o stress e reduz a agressão. O tempo passado à frente dos gadgets reduz a exposição aos elementos que naturalmente aumentam o bem estar e o estado de espírito da criança.
No mundo de hoje pode parecer estranho restringir o acesso aos eletrónicos.
As crianças estão claramente atraídas pela interatividade, pelas cores, pelo entretenimento ininterrupto. E assim os pais conseguem ganhar alguns minutos de sossego e descanso.
Mas quando se nota claramente que as crianças estão a manifestar comportamentos de falta de atenção e concentração, agressividade, depressão, mau-humor, não lhes fazemos nenhum favor deixando os gadgets à mão.
Não funciona, mesmo!
Pelo contrário, permitindo que o seu sistema nervoso regresse a um estado mais natural, com uma abstinência completa de ecrãs, podemos dar o primeiro passo em ajudar os nossos filhos a tornarem-se mais calmos, fortes e felizes.
imagem@bolsademulher
Parece-me que nunca vi ninguém a dizer que conhecia uma pessoa que tinha ficado cega ou que tinha morrido devido à exposição à televisão. Agora a moda de dizer mal passou para os dispositivos móveis…
Os pais não sabem mediar esta utilização, relegando para as crianças esta gestão. Por sua vez, as crianças utilizam-nas avidamente, descobrindo imensas potencialidades desta ferramenta. Infelizmente os pais, ingenuamente, não potencializam a utilização. Como tudo na vida, esta utilização tem de ser regulada.
As tecnologias são excelentes dispositivos que nos dão acesso a milhares de conteúdos, onde podemos aprender sobre tudo! Basta saber usá-las corretamente. Também tem a vantagem de podermos criar e partilhar conteúdos, contribuindo para o conhecimento global.
A solução não é arrancar os dispositivos das mãos das crianças, mas sim ensiná-los a utilizá-los corretamente.
Concordo a 100%. Nem 8 nem 80, há que saber mediar!