Como mãe estou preparada, ou assim o espero, para ver a minha filha ganhar asas e voar livremente, sozinha, enquanto descobre o seu caminho por si.
Pretendo dar-lhe as ferramentas necessárias para que faça as suas escolhas, mas tenho alguns receios que acredito que são transversais à maior parte dos pais:
Não poder acompanhar o crescimento de um filho
Quero estar por perto para presenciar as conquistas, das mais pequenas às mais significativas, os erros em que todos caímos, as certezas que se irão solidificar, a pessoa em quem se vai tornar. A simples possibilidade de (uma de nós) estar ausente deixa-me um aperto no coração.
Que um filho fique verdadeiramente doente
Sempre admirei os pais que acompanham filhos doentes – seja qual for a doença – a sua devoção, fé, coragem, mesmo quando as perspectivas são más. Ninguém está preparado para não conseguir proteger um filho de algo grave, que foge ao seu controlo, ninguém ensina como se deve agir. A minha consideração é gigante e desejo do fundo do coração não ter de passar por isso e que um dia esta realidade seja uma raridade.
Ver um filho fazer (más) escolhas que lhe condicionem a vida
Os nossos filhos, por mais que sejam parte de nós e tenham o nosso sangue a correr nas veias, são (ou serão um dia) seres pensantes independentes, com as próprias dúvidas, convicções e vontades. Todos nós, mais tarde ou mais cedo, tomamos más decisões. Torço para que sejam sempre lições – para os filhos e para os pais – e que no fim haja sempre uma luz para iluminar o caminho.
Ter uma má relação com um filho
É daquelas ideias que parecem impossíveis, mas se olharmos em volta vemos todos os tipos de relações, das mais cúmplices às mais esvaziadas de sentimentos. Nenhum pai sonhou um dia não ter uma relação próxima com um filho, não ser procurado numa situação de aperto, não ser um bom ouvinte, um bom companheiro. A vida às vezes encontra maneira de dar a volta ao que tínhamos como certo e torço para que se consiga sempre dar a volta à vida e alimentar da forma mais saudável e verdadeira a relação mais importante das nossas vidas.
Ter um filho cobarde
A cobardia tem muitas faces: está na violência doméstica, está no bullying, na cumplicidade e silêncio de quem assiste a uma injustiça e nada faz, está no seguir os outros porque não temos coragem para mostrarmos quem realmente somos, etc. Espero que os princípios mais importantes fiquem sempre gravados na cabeça e no coração dos meus filhos, para que por mais que errem, nunca sejam os cobardes que infligem sofrimento propositado a quem os rodeia – e em si mesmos.
Não conseguir ajudar um filho
Seja em que situação for, por falta de dinheiro, de tempo, de sabedoria, de “ferramentas”… Que nunca falhe a um filho meu.
Não controlamos nada. Somos pais mas continuamos a ser filhos e temos uma rede de relações que se deve basear no amor. Acredito profundamente que quando há amor se encontra a força necessária para ultrapassar tudo. Os dias menos bons. Uma notícia inesperada. As saudades. Aquele telefonema que andamos para fazer há uma série de tempo. A falta de paciência nos dias longos, o cansaço nos dias mais intensos.
Tenho muitos mais medos do que os que aqui admiti, mas não deixo que estes condicionem a forma como vivo a minha vida. Quanto muito permito que me ajudem a valorizar o que tenho e a investir no que não quero perder.
Porque nenhum medo deve ter o poder de nos impedir de sermos melhores: pais, amigos, namorados, filhos, colegas, seres humanos.
Porque nenhum medo deve ser maior que a esperança.
Nenhum medo deve ser maior que o amor.
Por Marta Coelho, para Up To Kids®
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