
Os pais e a adolescência
Os pais e a adolescência
A maternidade / paternidade é um processo em que todos os dias existem micro-etapas que ensinam a gerir esse mesmo processo, que gera muitos desafios, sendo um deles a capacidade de perceber que os filhos vão crescendo e tornando-se autónomos – sinal de um bom desenvolvimento.
Durante o crescimento há fases para tudo: há uma fase em que os filhos correm para o colo dos pais entusiasticamente; depois, há uma idade a partir da qual beijinhos, junto ao portão da escola, são inteiramente dispensáveis (e os pais mais resignados: “então, e o meu beijinho?” ou, então, os mais impositivos: “não venhas com histórias porque isso em nossa casa não funciona assim”).
Há uma altura em que os pais são detentores da razão. Há outra a partir da qual a razão reside nos amigos, que parecem até muito mais compreensivos e solidários. E, quando começam a soprar estes ventos, percebe-se que a direção da vontade se centra na companhia dos amigos, e a presença dos pais deixa de ser tão desejada, como até então.
E qual é o principal problema de todas estas mudanças?
Nenhum! Ou, aliás, o único problema poderá residir na forma como os pais reagem a estas alterações de comportamento.
Um desenvolvimento saudável pressupõe a autonomia emocional, ou seja, que os filhos se sintam cada vez mais, durante o crescimento, capazes de ir caminhando sozinhos e alargando o seu leque de relações, que passa por uma fase em que os amigos adquirem um papel de destaque, face à família.
Para que este seja um processo sereno, é preciso que os pais sintam esta fase como natural e aceitem as manifestações de independência dos filhos. Que se sentem tão crescidos que os beijinhos e abraços são só aceites no recato do lar. Ou que parecem dar “mais ouvidos” à verdade dos amigos ou, mesmo, quando pedem para estar com os amigos e não parecem importar-se de perder aquele programa espetacular em família (fazendo parecer que, afinal, já não é assim tão espetacular!).
Os pais e a adolescência. Nada acontece de um dia para o outro!
Vão existindo uns sinais aqui ou ali, sendo o sinal maior a idade – a passagem dos anos. A dificuldade dos pais, na gestão desta fase, parece centrar-se na dependência absoluta em que os filhos surgem no mundo. Passar deste estádio, em que os pais são imprescindíveis, para o outro, em que até parecem ser relegados para um plano secundário ou terciário, a favor dos amigos, despoleta algum desconforto. E, por vezes, esse desconforto, conduz a chamados de atenção que podem promover sentimentos de culpa, nos filhos.
Mas que culpa terão os filhos de estarem a crescer e quererem ser tratados como crescidos? Ou, até, de quererem ter uma maior partilha do seu tempo em convívio com amigos – os seus pares -, que é tão natural e necessário, quanto saudável?
A verdade é que este movimento de mudança em nada altera o laço afetivo e emocional desenvolvido desde o nascimento. A verdade é que este movimento de mudança é tão mais possível, quanto mais consistente e saudável for esse laço. Porque a nossa capacidade de autonomia tem, na raiz, a solidez da relação com os cuidadores e do amor incondicional. E quando já interiorizámos a segurança e confiança que o porto seguro transmite, ganhamos a possibilidade de explorar outros portos. E que conquista os pais devem sentir, quando o meio-metro que viram nascer, não tem crescido só em altura, e que já é capaz de caminhar sozinho (ainda que os pais nunca deixem de ser porto de abrigo!).