
Pais à beira de um ataque de nervos
Pais à beira de um ataque de nervos
Quem nunca assistiu à birra de uma criança em pleno supermercado?
A criança que entre choros e gritos estridentes se atira ao chão; os pais (descontrolados, desgastados, desesperados e por vezes até desgrenhados) que tentam a todo o custo dar termo à infindável birra e que, por vergonha, anseiam o fim dos olhares acusatórios que teimam em surgir (por entre fraldas e pacotes de bolachas).
Manter a calma.
Algo que é tão desejado entre os pais (e tantas vezes prometido) mas que é tão difícil de alcançar em certas ocasiões.
Como manter a calma quando, num abrir e fechar de olhos, tudo se transformou num verdadeiro campo de batalha?
Como garantir a serenidade quando as regras e os limites são constantemente desafiados até à exaustão e as birras teimam em chegar dia após dia?
Como voltar a recuperar o controlo quando a panela de pressão está prestes a rebentar?
Certos comportamentos funcionam em nós como “gatilhos” que, ao serem acionados, podem levar-nos a agir da forma menos ponderada. Na parentalidade, experiência pessoal particularmente complexa e emotiva, as emoções podem ganhar especial relevo e levar a respostas menos desejadas. O desafio prende-se com o reconhecimento das emoções e dos sentimentos que surgem nos momentos de tensão, tal como a procura de estratégias eficazes que possibilitem um maior controlo das emoções, sempre que o “gatilho” é ativado.1
Dar livre curso à raiva (com gritos e pragas de todo o tipo), pode dar-nos a sensação momentânea de que estamos a libertar a tensão e a reduzir a irritabilidade que estamos a sentir no momento.
Mas será que libertar a tensão do momento, como se de uma panela de pressão nos tratássemos, é a melhor solução? Será que a sensação de efeito catártico que sentimos naquele instante, é eficaz a longo prazo?
Na verdade, muitas vezes o que adquirimos é apenas uma falsa sensação de poder momentâneo. Violência gera violência e dar livre curso à raiva pode estimular a agressividade e prolongar a sensação de irritabilidade.
A longo prazo, e através da observação, as crianças podem aprender o comportamento dos pais e reagir de forma mais agressiva sempre que se sentirem frustrados.¹ Da mesma forma, observar uma postura calma em momentos de stress, poderá levar a criança a reagir de forma mais assertiva perante situações de frustração.
Aprender a relaxar e a gerir o nível de stress e irritabilidade pode ajudá-lo(a) a manter o controlo e a alcançar os seus objetivos sem o/a levar a si e aos outros à exaustão. Dê atenção ao seu corpo, aos sinais de tensão, e procure respirar e relaxar!2
Fazer tempos de pausa pode ser uma estratégia eficaz no alívio da tensão. Esta permitir-lhe-á afastar-se da situação, rever as estratégias usadas e “recuperar o folego”. Se está sozinho(a) com uma criança e não pode ausentar-se, tente alterar o tempo de pausa e adaptá-lo às circunstâncias.2
Sugerimos que experimente quais as estratégias que melhor funcionam ou não funcionam consigo.
Damos-lhe alguns exemplos:
– Pare e pense antes de responder, sempre. Lembre-se da importância que é manter-se calmo e não perder o controlo.
– Conheça os seus gatilhos e tome atenção ao seu corpo. Perceba quando o seu corpo lhe está a dizer para se acalmar (ex. coração acelerado, músculos tensos, nó na garganta).
– Está no meio do conflito? Respire fundo e afaste-se por uns minutos. Durante o tempo de pausa, procure relaxar e distinguir as suas emoções dos seus pensamentos.
– Aprenda a relaxar. Aprender a relaxar fisicamente pode ser fundamental. Respirar profunda e lentamente sentindo o ar a entrar e a sair do nosso corpo, por exemplo, ajuda a libertar a tensão, diminui o ritmo cardíaco, relaxa os músculos e reduz a pressão sanguínea. Mesmo quando está em atividade, pode utilizar técnicas de relaxamento.
– Liberte o stress através da prática de exercício.
1Pincus, D. (2014). How to stop yelling at your kids: Use These 10 tips @ empoweringparents
2Webster-Stratton, C. (2010). Os anos incríveis: Guia de resolução de problemas para pais de crianças dos 2 aos 8 anos de idade. Braga: Psiquilibrios Edições
imagem capa@FreeDigitalPhotos.net