Comemorou-se dia 19 de setembro o dia europeu da psicomotricidade. E compreendo que estas informações tragam imensas perguntas associadas. A primeira e mais óbvia será: “que raio é a psicomotricidade?”. A segunda será porque temos direito a um dia e a terceira qual a importância.
Não tentarei dar a definição de psicomotricidade. Passei mais de 5 anos a estudar este assunto, escrevi dezenas de trabalhos sobre este tema e até uma tese. Realizo este trabalho diariamente e mesmo assim, não vos consigo trazer uma definição que seja larga o suficiente para lhe fazer justiça.
Claro que existem definições (muito completas) desta simples palavra, que vão desde autores conceituados como Soubiran, Ajuriaguerra ou mesmo portugueses como Vítor da Fonseca. Existem outras definições mais simples de compreender, algumas que dividem a palavra ao meio – psico + motricidade. Existem até algumas definições de terreno dadas pelos incríveis profissionais que trabalham no quotidiano. Todas elas estão certa. A questão é que a maioria das vezes estas definições não são o suficiente para esclarecer quem nunca ouviu falar de nós, e por isso é que invariavelmente, de tempos em tempos, ouvimos um: “Para que é que vocês servem mesmo?”
Por muito frustrante que seja, acontece.
Sabemos explicar perfeitamente o que é a psicologia ou para que serve um psicólogo? “Ah, é para tratar dos problemas da cabeça”, muitos dizem. Mas esta é uma definição tão lata… Os psicólogos trabalham com crianças, adultos e idosos. Com traumas passados, com dificuldades de aprendizagem ou com situações pontuais e em empresas e recursos humanos…
Para que serve um terapeuta da fala? “Ah, para falar melhor claro”, mas que é tão mais também, abrangendo problemas de deglutição ou recuperação de casos de AVC, por exemplo. Mesmo médicos, advogados e engenheiros… Definir uma profissão numa mera frase é complexo e quase impossível e se tal é o necessário para sermos considerados uma profissão, então nós somos quem ajuda a cabeça e o corpo serem um só.
Não, não será por definições que faremos com que o nosso trabalho seja reconhecido… Nós seremos reconhecidos pelo trabalho que fazemos no terreno, pelos nossos conhecimentos específicos e pelo nosso trabalho de investigação. É cada um de nós que parte de manhã para uma escola, para uma clínica, para uma creche, para uma instituição, para uma casa de repouso. É no abraço que damos e na regulação tónica que esse contacto provoca. É no darmos a mão e promovermos o equilíbrio. É no jogar à bola enquanto desenvolvemos a coordenação. É nas histórias que escrevemos enquanto observamos o trabalho grafomotor. É no apoio ao familiar quando a situação fica difícil. É na conversa com os restantes profissionais, na ajuda e partilha de estratégias.
Por isso este dia é tão importante. É uma porta que se abre e que nos permite atravessar todos juntos ao mesmo tempo. É dia de dizer: sim, sou psicomotricista, tenho orgulho e sirvo para tanto.
É dia de todos falarmos ao mesmo tempo do mesmo e tão, tão alto que um dia não será mais necessário responder a esta pergunta.
imagem@yelp
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