Pedir desculpa aos filhos não nos rebaixa, eleva-nos.
Há quem diga que as crianças não merecem um pedido de desculpa. De acordo com esta perspectiva, pedir desculpa a uma criança torna-a um pequeno ser maquiavélico que tenderá a abusar e a impor-se sobre os outros; é quase como se levasse à deturpação da inocência e bondade da criança.
Habitualmente quando sinto que preciso de pedir desculpa a alguém tenho de rever internamente a forma como o irei fazer. Possivelmente por ao longo da vida me terem pedido desculpa poucas vezes e ter aprendido que é difícil fazê-lo, este comportamento não ocorre naturalmente. As únicas pessoas com quem tal não se sucede são as que já me pediram desculpa antes, com essas existe abertura e espontaneidade no pedido de perdão – óbvio ou talvez nem por isso.
Quando alguém nos pede desculpa permite-nos conhecer as suas imperfeições e mostra-nos que as reconhece. Tal leva-nos a sentir que todas as nossas características (as boas e as menos boas) também serão aceites, uma vez que não faz sentido o outro exigir mais de nós do que exige de si próprio (se ele percebe que não é perfeito, aceitará que o mesmo se passa connosco). Além disso, o esforço do outro reconhecer atitudes das quais se arrepende dá-nos sinais de valorização e estima em relação a nós, caso contrário pouco se importaria do impacto que o seu comportamento tem.
Por quantas pessoas se sentem verdadeiramente aceites e valorizados? Provavelmente pelas mesmas que já mostraram amar-vos ao ponto de reconhecerem que não estiveram bem a dada altura (por vezes chega a ser um acto de altruísmo).
Pedir desculpa aos filhos
Desde cedo comecei a pedir desculpa à nossa filha, peço-o sempre que sinto ser necessário, de forma sincera, tal como pediria a um adulto. Como resultado, ela começou a modelar este comportamento, isto é, aprendeu a imitá-lo e com o tempo interiorizou-o ao ponto de pedir apenas quando sente que o deve fazer – depois de levar algum tempo a pensar, vem ter connosco e pede desculpa sem que ninguém lhe diga que o deve fazer.
Se cada vez que peço desculpa à nossa filha ela aprende que a amo, que a valorizo, que não sou perfeita e por isso ela também não terá de o ser, que a aceito como é, que amar os outros implica colocarmo-nos na pele deles e sair da nossa zona de conforto, então esta será uma competência que farei questão que a acompanhe pela vida fora e que acredito que a levará onde quiser chegar – o amor próprio e pelos outros implícitos no pedido de perdão não nos rebaixam, elevam-nos.
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A entrada no mundo da maternidade rapidamente se revelou menos “purpurino-brilhante” do que havia imaginado. Poderei ser uma mãe que se sente completa, com disponibilidade para a sua prol, se não cuidar de mim enquanto mulher? Poderei ser uma mulher feliz se não me sentir uma mãe livre?