Por um Carnaval mais ecológico
No ano passado, como relatei num texto publicado há uns meses, um colega da minha filha ficou aflito quando lhe entregaram para a mão confetis no desfile de Carnaval para atirar ao ar.
O lixo não é para atirar para o chão, dizia ele – e com toda a razão.
A preocupação era legítima mas fizemos aquilo que tantas vezes fazemos enquanto adultos – arranjamos excepções para as regras por nós criadas.
No final dos desfiles de Carnaval fica o lixo. Papéis e mais papéis, garrafas e copos descartáveis espalhados pelas ruas por esse Portugal (mundo) fora.
Fala-se tanto da sustentabilidade do planeta, nas alterações que devemos introduzir no nosso dia-a-dia, e por que não aproveitar estas situações para criar a mudança?
Este ano, e em homenagem a esse colega da minha filha, decidimos fazer diferente. Decidimos tornar o carnaval mais ecológico.
Em vez de comprarmos confetis de papel vamos fazê-los usando outros recursos da própria natureza que não resultam do abate de árvores.
Apanhámos, durante alguns dias, folhas caídas no chão do jardim e nas ruas por onde fomos passando.
Aproveitámos para escolher folhas de várias cores, umas mais secas que outras, para podermos ter confetis coloridos.
Em casa lavámos as folhas que precisavam, por causa da terra, e deixámos ao sol a secar.
Fomos buscar o furador de papel cá de casa e a Mariana o seu cortador em forma de estrela.
Em vez de ligarmos a televisão nos finais de tarde de chuva juntámos todas as folhas e furámos uma a uma com o cortador e o furador.
É um trabalho que demora tempo, é certo, para ficarmos com uma quantidade de confetis considerável. E os miúdos acabam por se fartar, de acordo.
Mas os dez minutos em que eles ficam parados a fazerem uma coisa para seu próprio benefício e que sabem que é bom para o planeta é de um valor inestimável.
Falámos do abate de árvores. De como é importante reciclar papel e utilizar coisas que sejam produzidas recorrendo a materiais reciclados. Falámos das espécies animais que estão a ficar sem casa e, por isso, a desaparecer por não terem onde viver. Falámos do lixo que as pessoas continuam a mandar para o chão, para a sanita, para o mar. E do fim de outras espécies que estão a sofrer por causa disso.
Falámos do nosso caso, em que temos cuidados importantes.
Reduzimos os plásticos ao mínimo. Não usamos praticamente plásticos de utilização única, com excepção para os sacos do lixo (em que mesmo assim usamos marcas que usam materiais reciclados). Reciclamos todas as embalagens e nas compras usamos sacos de pano para comprar frutas e legumes. Estamos a comprar menos roupa (por causa dos danos que a indústria do algodão provoca no ambiente e na água, já para não falar da quantidade impressionante de água que é necessária para produzir uns simples jeans), usando os recursos durante mais tempo e cedendo cada vez menos às compras por impulso e de mero consumismo.
Estamos a fazer a nossa parte. E a geração dos nossos miúdos vai enfrentar problemas graves se não acelerarmos a cura do planeta. É uma geração mais consciente, com mais opções mas também mais responsabilidades.
Acho que estamos no bom caminho.
Cá por casa (e esperamos que em algumas outras depois de lerem este texto) vamos lançar ao ar confetis coloridos feitos com amor e provenientes de folhas caídas. Que serão lixo orgânico.
A ideia foi apresentada na escola e pelo menos na sala da minha filha vão fazer o mesmo. Só o impacto de menos lixo proveniente de trinta mini pessoas é um começo.
Um passo de cada vez.
Juntos.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!