Porque devemos falar aos nossos filhos sobre o dia internacional da mulher?

Em conversa com a minha filha Francisca, perguntei-lhe se sabia que hoje é dia internacional da mulher. Respondeu-me que não. Perguntei-lhe então se sabia porque é que se celebrava este dia. Olhou para mim muito fixamente e disse:” – Porque há coisas que as mulheres não conseguem fazer, porque só os homens podem fazer.” Fiquei para morrer, a minha filha estava a corroborar com o chauvinismo. Tenho a certeza que tive um principio de piripaque, com as sobrancelhas franzidas e acho que piscava um dos olhos intermitentemente. Acho. Perguntei-lhe de novo : “– Como assim,  -não conseguem fazer? Não achas que as mulheres podem fazer tudo o que quiserem? Que são tão capazes quanto os homens?” Franziu-me de volta as suas lindas sobrancelhas mas sem piscar intermitentemente um dos olhos (ou estaria eu verdadeiramente preocupada!) e respondeu-me:“- Mãe!! Sim, não conseguem porque não lhes deixam fazer! Sabes, aquelas mulheres que sofrem de violência doméstica? Ou aquelas mulheres que falas sempre, que em certos países são tratadas “abaixo de cão”?. Essas não conseguem, porque não lhes deixam. “

Engoli em seco.“- Sabes o que é violência domestica?”

“Sei…”  Respondeu-me, “É quando se tem medo dentro da sua própria casa.”

As crianças são assim. Basta falarmos uma vez. Disse-lhe um dia, que nenhuma mulher deve aceitar ser vitima.

Somos mais fortes, do que às vezes cremos. Do que nos disseram enquanto crescemos. Somos educadas, para sermos sensíveis, frágeis e é esse o nosso papel, apesar de tantos e tantos exemplos na historia do contrario. Preferimos as Cinderelas choronas que são salvas por principes, ao invés das Amelia Earhart da vida. A palavra vitima tira-nos o poder. Infelizmente há mesmo vitimas de todos os tipos e formas. Em muitas zonas do mundo, ainda somos tratadas como se fossemos uma comodidade, como o gado ou a farinha e, às vezes, valemos menos que isso.

O meu primeiro amor em termos geográficos, foi o Médio Oriente. Paixão que me levou a estudar no Reino Unido. Os meus amigos afirmavam sem qualquer conhecimento para tal:- ‘Esses gajos maltratam muito as mulheres pá!‘ ou -‘É um povo estranho. As mulheres não valem nada lá’. Cansei-me de debater esta questão tendo em conta que já na altura  morriam mais mulheres em Portugal e no País de Gales, vitimas de violência doméstica, que em todo o Médio Oriente junto!

Em Portugal, a ignorância e o silêncio faz muitas vítimas. O ignorarmos o assunto, fez com que muitas mulheres fossem aceitando morrer aos poucos. As nossas forças policiais e as nossas leis durante muito tempo evitaram meter a colher entre marido e mulher. Felizmente hoje em dia é considerado crime público.

Mas a educação, tal como ‘nesses países esquisitos’, é fundamental, tornando-se o cerne da questão. A educação não deve ficar só nas nossas mãos, mães de meninas. Carregamos o peso de educar as meninas, as mulheres, e raras são as vezes que se fala sobre educar os rapazes, os homens para a igualdade do género.

Educar a igualdade de género é tão importante, e reflete-se mesmo nas coisas mais básicas como o derrubar o preconceito de uma menina ser ‘Maria rapaz’. Ou que as meninas que possam andar de skate se quiserem! Sem rótulos perjurativos. Ou que meninos  possam usar rosa choc sem sofrerem bullying.

As mães de meninos, têm a obrigação de educar os seus ‘príncipes’ a respeitar a igualdade e a diferença. Esta obrigação não cabe só à escola, cabe-nos a todos, é um dever.

Nós mães de meninas agradecemos, e a nossa sociedade torna-se mais saudável.

imagem@Céline Sciamma em Tomboy

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