
Porta-te bem! / Portaste-te bem?
Queridos pais:
Despedes-te sempre de mim com “ Porta-te bem ! ” Do outro lado da moeda, vem o cumprimento, à chegada: “Portaste-te bem?”
Mãe/pai muda o discurso… já viste a ambiguidade que esse encerra? Há muitas coisas difíceis de perceber e eu acabo por não saber bem o que esperas de mim, com essa frase.
Olha, quando nós – os filhos – somos calados e participamos pouco nas atividades da escola, chamas-me à atenção porque não falo e devia participar mais. “Tens vergonha, querido? Não tenhas!”. Se falo com os amigos, desancas-me porque não devo falar…
Ter imaginação é bom; saber criar, sejam brincadeiras, desenhos ou jogos. Dizem os especialistas que é sinal de inteligência! Mas só me deixas pintar nas folhas, fazer letras nos trabalhos… e até te zangas com os desenhos no sofá e as letras nas paredes…
Já viste a quantidade de vezes que te zangas comigo? E se for eu a zangar-me com os amigos? Lá vem o discurso, de novo, sobre a importância da amizade… como se uma zanga abalasse tudo!
Há muitas vezes que eu também me zango contigo. De forma atabalhoada, eu sei… mas é assim que me sai: gritos, esperneios e a contrariedade à tua ordem. Sabes que me falta ainda a capacidade de argumentos de peso que tu tens, não sabes?
E aquela velha máxima de cumprimentar toda a gente de cabeça erguida e sorriso rasgado que tanto falas? Estou em esforço… contínuo, acredita! Mas sabes que já te vi, uma vez ou outra, a evitar aquela vizinha que não gostas assim tanto?…
Enfim, há coisas que podias mudar para me facilitares a compreensão do que esperas de mim e para ver se nos encontramos algures pelo caminho do entendimento:
- Quando eu não fizer alguma coisa bem, fala-me sobre isso, em concreto.
Evita os discursos longos! Na verdade, desses, só ouço metade; se for em gritos, talvez reste um terço que eu interiorize. Todo o resto do tempo, a mensagem que passa é “falhei e não posso; desiludi; qual será a consequência; até quando vai durar; em que pé estará a nossa relação depois deste cataclismo?”
- Fala claramente sobre o que esperas de mim, numa determinada circunstância, para eu poder perceber-te melhor e procurar um sentido, dentro de mim, naquilo que me dizes.
- Contextualiza as circunstâncias, mesmo que te pareça óbvio. Para nós nunca é tão óbvio como para os adultos. Exemplo óbvio: “falar é a melhor forma de comunicarmos com os outros, mas no decorrer de uma aula, não se fala com o colega do lado, a não ser que estejam a fazer um trabalho conjunto”
- Não te preocupes tanto com as zangas que se desenvolvem entre amigos. Talvez queiras ensinar-me a importância de considerar o ponto de vista dos outros, mas não te esqueças que as zangas fazem (dizem os especialistas que até DEVEM fazer) parte das relações. Enquanto nos zangamos e resolvemos a zanga, também crescemos, sabes?
- Mostra-me que confias em mim, sem estares sempre a antecipar como devo agir, fazer ou dizer. Assim, vou sentir a serenidade das tuas expectativas e devolvo-te na mesma moeda.
- Por último, mostra-me as tuas falhas. Conta-me algumas que fazes agora ou que fazias quando tinhas a minha idade. Quando eu sentir que não és um adulto perfeito, vou ficar mais tranquilo. Com isso, perceberei que posso errar e emendar, sem culpas. E, dessa forma, cresço com o conforto de sentir que tenho um modelo a seguir (TU), que não espera aquilo que eu não posso ser: PERFEITO!
Com isto termino mas, já agora,…
Pai / Mãe!
ACEITA-ME BEM! ACEITASTE-ME BEM?
imagem@pmap.co