“Passei então a marcar, com uma caneta verde os grafismos mais perfeitos para que se pudesse concentrar nas suas vitórias e não nas derrotas.”
Princípio da caneta verde
A minha filha não foi para a escola na infantil e pré-primária como a maioria das crianças. Ficou comigo em casa, e eu própria desenvolvi com ela, diariamente os conteúdos para que desenvolvesse as competências necessárias para ingressar no 1º ciclo.
Quando começamos a trabalhar os grafismos na motricidade fina, apercebi-me de que, ao corrigir os seus trabalhos com uma caneta vermelha estava a valorizar os seus erros, e não aquilo que estava correto. Aquilo que tinha conseguido realizar com esforço e concentração.
Passei então a marcar, com uma caneta verde os grafismos mais perfeitos para que se pudesse concentrar nas suas vitórias e não nas derrotas.
Ela gostou muito disso. Queria sempre melhorar e quando acabava de preencher uma linha com um grafismo ou uma letra, perguntava-me qual era a letra mais bonita da linha. E ficava ainda mais feliz quando me via a rodear a letra perfeita com a caneta verde.
Qual a diferença entre as duas abordagens?
No primeiro caso estamos a concentrar-nos no erro.
Ora, uma criança com uma memória visual aguçada está a reter uma imagem errada no seu subconsciente e a assimilar que é errado, para não voltar a repetir. Ou seja, a criança vê-se obrigada a ter uma atitude diferente daquela que memorizou e que sabe estar errada. Vai da próxima vez, tentar evitar o erro. Mas há infinitas maneiras diferentes de errar… A aprendizagem nem sempre funciona por exclusão de partes.
No segundo caso estamos a concentrar-nos no objetivo.
A criança memoriza o símbolo ou letra e tenta reproduzi-la o mais idêntico possível. Ou seja, em vez de tentar evitar um erro, irá tentar alcançar um objetivo.
Parece a mesma coisa, mas a emoção e perceção da criança é totalmente diferente. Trata-se de uma motivação própria e não o desejo de evitar um erro. Se procurarmos estimular a criança a repetir algo bem feito, os resultados serão muito positivos.
Como é que esta abordagem de evidenciar os erros pode (e vai) influenciar futuramente na vida de adulto?
A resposta é óbvia: desde crianças que somos habituados a concentrar-nos naquilo que está errado. Na escola corrigem-nos os erros a caneta encarnada, em casa somos chamados a atenção quando não arrumamos os brinquedos, e quando crescemos, sabemos que se falharmos seremos apontados por isso. No entanto, raramente somos parabenizados por tudo o resto que fazemos corretamente.
Veja a última linha da imagem acima: das 18 bolinhas desenhadas, a tendência é marcamos apenas uma. Ou seja, 19 estavam corretas e apenas uma não estava. Vale a pena concentrarmo-nos nela?
Destacar o erro
Destacar o erro é uma abordagem que está tão intrínseca na nossa cultura e educação, que dificilmente nos livramos dela na idade adulta. Esta é uma das razões da nossa sensação de insatisfação na vida.
Este exemplo pode ser extrapolado para a vida de um casal, por exemplo. O seu marido tem 19 características incríveis, mas vão acabar por discutir porque você está constantemente a destacar aquela que não gosta, e que acha errada. Esta é uma das causas do insucesso das relações e do aumento exponencial dos divórcios.
É normal moldamos a vida dos nossos filhos com o mesmo molde que usaram connosco, sem pensar muito na questão e isso nem sempre é positivo.
Se colocar em prática o método da ’caneta verde’, vai ver que não precisa de mostrar aos seus filhos os erros dados, pois por vontade própria, com esforço e dedicação da criança, estes acabarão por desaparecer pouco a pouco. Notará diferença ao nível do empenho e da autoestima deles. Experimente!
Por Tatiana Ivanko, publicado originalmente em Real Parents
Traduzido e adaptado por Up To Kids®.
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1 comentário
Muito bom este teste e texto da caneta verde.
Nas escolas seria fundamental incentivar as nossas crianças a quererem ter todo o verde do mundo