
Psicoterapia Corporal
“Quando olho um corpo humano, pergunto: Que história esse corpo me conta? O que essa postura, essa voz, esse ritmo, esses gestos, esse olhar e essa expressão querem dizer?” Pashupati
A Psicoterapia Corporal é uma linha da psicologia, que olha para o ser-humano, como uma unidade psicossomática. É uma abordagem, na qual, técnicas verbais e não-verbais são utilizadas para ajudar as pessoas no seu percurso de vida e no seu desenvolvimento pessoal. O que afecta a mente afecta o corpo e o que afecta o corpo afecta a mente. Baseamo-nos na leitura corporal, ouvimos a história que a pessoa conhece e consegue contar e também deduzimos a história que ainda não conhece, a partir daquilo que o corpo mostra. A proposta é possibilitar, através do contacto com o corpo enquanto organismo vivo e expressivo, revivências de carácter emocional e afectivo, acompanhadas de uma tomada de consciência capaz de dar suporte à reorganização do vivido.
Foi Wilhelm Reich (1897 – 1957) que lançou as bases da psicologia corporal, é ele o pai de todas as terapias actuais. Ainda enquanto psicanalista Reich descobriu que o corpo contém a história de cada indivíduo e é por meio dele que devemos procurar resgatar as emoções mais profundas. Com isso, desenvolveu a técnica da Análise do Carácter, como forma de substituir a tradicional análise do sintoma proposta pela psicanálise. Passou a analisar o carácter do paciente como um todo, num trabalho mais rápido, dinâmico e profundo.
A psicoterapia corporal permite iniciar um processo de identificação das nossas defesas principais, defesas que serviram para sobrevivermos a determinadas situações ao longo do nosso processo de desenvolvimento, mas que agora nos dificultam a vida e não nos possibilitam vivê-la de forma aberta, livre, experimentando o prazer, a vivacidade e a vitalidade. As nossas defesas, ao tornarem-se habituais, podem inibir-nos de experimentar não apenas o sofrimento, mas também sentimentos de alegria e expansão. Muitas vezes, estamos enredados num processo de contracção física e emocional que nos impede de viver plenamente o nosso quotidiano. Essas defesas emocionais reflectem-se no corpo e na maioria de nós geram um “congelamento”, uma contracção crónica, que não é mais do que um pedido de ajuda do nosso corpo em resposta ao nosso passado ferido. Um passado, que pode impedir-nos de estar completamente disponíveis para o presente. Esses congelamentos ou bloqueios, não permitem que a nossa energia vital circule de forma plena, e mantêm as pessoas agarradas a determinados padrões de comportamento, que já não nos fazem sentido, mas que não conseguem alterar sem um trabalho profundo ao nível das nossas memórias celulares. O que acontece é que algumas das situações traumáticas são vividas na primeira infância, época à qual a nossa memória intelectual não consegue aceder, o que torna o trabalho apenas ao nível do verbal bastante limitado. O nosso corpo tem inscrito em si mesmo, toda a nossa vida, desde a fase intra-uterina e transporta uma memória celular que só pode aceder à consciência, através do trabalho corporal e do desbloqueio dos nossos sete anéis principais. São insights que o nosso corpo nos dá e que muitas vezes nos permitem compreender algo que até à data nos parecia incompreensível.
Porque é que eu reajo desta maneira? Porque é que eu preciso tanto do reconhecimento por parte dos outros? Porque é que, por mais que faça e que os outros me façam, nunca me sinta verdadeiramente vista? Porque é que eu descarrego na comida todas as minhas frustrações? Enfim, um conjunto de questões que pertencem invariavelmente a fases pré e intra-uterinas e primeiros anos de vida, às quais não conseguimos chegar sem toda a informação que está retida no corpo. O corpo esforça-se por nos dar essas informações, por vezes de forma delicada, outras através de somatizações, mas nós não estamos preparados para sentir e ouvir essa forma de comunicação que nos é desconhecida e negligenciamos esta via preciosa no nosso percurso de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
É um processo de intensa mudança e limpeza emocional, que proporciona o relaxamento das estruturas físicas contraídas e resgata a capacidade de sentir, aumentando o fluxo de energia e ampliando a percepção.
O processo psicoterapêutico corporal facilita entre outras:
- A consciência do corpo e das emoções;
- A possibilidade de acesso a memórias de períodos não-verbais;
- O alívio emocional e físico, seguido do aumento no fluxo de energia;
- Mudanças nos padrões de defesa habituais que afectam a saúde;
- Transformações globais de longa duração.
“A era Cartesiana que separava corpo e mente entrou finalmente em mudança, é agora absolutamente necessário integrar pensamento, emoção e acção. Harmonia na vida é a dança adequada entre o que penso, sinto e faço” (David Boadella).
Considero a psicoterapia como uma ferramenta fundamental no desenvolvimento pessoal, na qualidade de vida e de relação com os outros. A psicoterapia é para todos e não apenas para alguns.