Leite ideal a consumir na infância: quis os critérios desta escola?
Desde o nascimento, e ao longo de toda a infância, uma alimentação saudável e equilibrada é determinante para o crescimento e desenvolvimento harmonioso das crianças.
Reconhece-se também que durante este período inicial da vida, os fatores alimentares irão ser determinantes para a saúde a curto e a longo prazo. Um dos alimentos base para um recém-nascido é o leite humano (vulgo leite materno) pelas suas inúmeras vantagens nutricionais, sendo que a Organização Mundial de Saúde e os principais Comités de Nutrição Pediátrica recomendam, sempre que possível, a sua oferta em exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida.
Em situações particulares, quando o aleitamento materno por algum motivo não é possível ou é insuficiente para a satisfação das necessidades em energia e nutrientes do bebé, encontram-se disponíveis no mercado fórmulas infantis, cuja composição se adequa às necessidades do lactente.
Depois dos 12 meses de idade
Após os 12 meses, num bebé saudável, o leite de vaca poderá ser integrado na sua alimentação diária, mas as dúvidas são muitas:
- Devo dar ao bebé um leite de “crescimento” (leites recomendados para alimentação de crianças dos 1 aos 3 anos) ou já posso dar leite de vaca?
- Que quantidade?
- O leite de vaca é todo igual?
- E se for leite de vaca, qual deles: leite meio-gordo ou leite gordo/inteiro?
Em primeiro lugar, é benéfico que a alimentação seja tão variada quanto possível. Assim proporção que o leite ocupa na alimentação diária deverá ficar limitada a 1/3 da oferta alimentar diária da criança, o que se traduz em 300-500 ml de leite/dia.
Em segundo lugar, o leite de vaca não é todo igual. Sendo que existem uma série de fatores que impactam a qualidade nutricional e as características organoléticas do leite de vaca. Importa aqui destacar que os dados científicos convergem para o facto do leite de pastagem ser:
- nutricionalmente mais rico,
- seja em proteínas de alto valor biológico,
- vitaminas e minerais,
- mas particularmente em gordura de excelente qualidade, benéfica em todas as idades, mas particularmente nas crianças.
De facto, este leite contém uma quantidade superior de ácidos gordos que, não sendo produzidos pelo organismo humano, são essenciais nos processos de crescimento e de desenvolvimento, nomeadamente do cérebro e visão, para além de serem importantes reguladores da resposta inflamatória.
Mas qual o leite a escolher?
Alguns autores argumentam que desnatar é mau, uma vez que o leite perde grande parte das suas características naturais. Significa isto que, uma vez o leite inteiro mantém as propriedades do leite tal como a natureza nos dá, este será a melhor opção de escolha.
Vários estudos demostram ainda que o consumo de leite inteiro associa-se a um menor risco de desenvolvimento de obesidade na infância. Ora embora possa parecer um contrassenso – mais gordura, menos risco de obesidade – o que acontece é que por ter maior concentração de gordura, o organismo após a sua ingestão fica saciado por mais tempo (a gordura atrasa o esvaziamento gástrico), o que irá limitar a ingestão de outros alimentos, nomeadamente daqueles com maior riqueza em açúcares, sal e gorduras não saudáveis.
Por todos estes motivos, numa criança saudável, o leite inteiro será a opção mais acertada e segura na hora de escolher o alimento da fase de transição dos mais novos.
Por Inês Tomada, Nutricionista
* Nutricionista, Membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (0045N); Licenciada em Ciências da Nutrição e Mestre em Nutrição Clínica pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto; Doutorada em Metabolismo, Clínica e Experimentação pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
1 Centro da Criança e do Adolescente e do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital CUF Porto
2 Professora Auxiliar Convidada da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa
3 Investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) da Universidade Católica Portuguesa
Contamos com mais de uma centena de especialistas que produzem conteúdos na área da saúde, comportamento, educação, alimentação, parentalidade e muito mais. Acreditamos em Pais reais, com filhos reais.