Sabendo que em cada 100 casamentos há 70 divórcios, naturalmente que destes divórcios, há inúmeras famílias com filhos(as). Decorrente deste facto, encontramos cada vez mais famílias reconstruidas que, e ainda bem, tentam a sua felicidade novamente.
No entanto, as famílias reconstruidas encontram desafios diferentes daqueles por que passam as referidas famílias tradicionais, que normalmente se prendem com as inúmeras situações que tornam mais difícil a adaptação, nomeadamente a multiplicidade de laços afetivos envolvidos. Uma das questões que abala com frequência a segurança das pessoas aquando do seu envolvimento romântico com alguém com filhos de outro casamento diz respeito à hierarquização das prioridades. Nas famílias tradicionais, essa questão não se coloca pela naturalidade das relações.
Quando tudo está em equilibrio, sem confrontos, nunca irão haver problemas nas famílias reconstruidas tal como não há nas famílias tradicionais. A questão coloca-se quando os “que não são pais”, têm de “fazer de pais”, exercendo a autoridade necessária à situação.
Educar em consenso
Relevante torna-se assim o período de adaptação anterior ao casamento (ou mudança para a mesma residência). Sendo tudo feito de forma adulta e tranquila raramente os problema irão existir. Mas mais que tudo, o importante é que o novo casal defina regras. Normalmente o ideal é que se mantenha o princípio de que, quem manda em casa são os adultos, sejam eles os pais ou os não pais. Primordial também, é o facto dos pais ( mães) não reagirem mal sempre que um “não pai/mãe” chama a atenção, dá uma palmada ou põe de castigo. Esta é uma questão que até em famílias biológicas (ou adoptivas) acontece, ficando ainda mais relevante no caso de serem “não pais”. O que faz sentido, é ambos terem a autoridade de imporem as regras de acordo com o princípio acordado entre os dois ( algo que todos os pais deveriam fazer aquando da educação dos seus filhos).
Um bom pai ou boa mãe erra
Naturalmente que educar uma criança é muito díficil por não ser algo que siga uma metodologia única. Não há um livro de regras ou boas maneiras para fazer, nem tampouco instruções. Muitas vezes vamos por tentativa e erro. Daí a importância de ir partilhando as dúvidas, receios e medos do que fazer. Aparecem frequentemente em consulta pais com dúvidas acerca do que fazer, como fazer, com medo de que estejam a fazer errado. O que digo sempre é que um bom pai ou boa mãe erra e isso não faz mal algum. Aliás, repito sempre esta frase aos pais que procuram e que foi proferida por um dos melhores e maiores psicólogos que o mundo já conheceu, Winnicott, que diz que “ Quando somos capazes de ajudar os pais a ajudarem os filhos, o que fazemos na verdade é ajudá-los a eles mesmos”.
Regras
É relevante que, os pais antes de se juntarem falem sobre as regras que deverão reger a família, sendo que ambos devem ter autoridade sobre as crianças e jovens que coabitam com eles, ainda que não sejam filhos deles. Só assim haverá harmonia, pois os filhos não irão sentir apoio do pai ou mãe acerca das suas acções menos boas, e assim reagir mal. Aliás, reforço mais uma vez a ideia do princípio ser o mesmo de um casal com filhos seus. Na frente das crianças e jovens os pais devem sempre mostrar acordo e apoio, ainda que depois sozinhos possam conversar e discutir alguma discordância. Por outro lado, é importante manter a relação com os ex para que estes também sintam que os filhos estão a ser balizados e amados, e entender queixas dos filhos que possam existir.
Os filhos em primeiro lugar
O divórcio e novo casamento não é opção nem escolha dos filhos, pelo que os pais e novos companheiros devem agir em função do bem estar deles. Mas claro que nada é estanque, e o mais importante é sempre a comunicação e partilha entre o casal e com a restante família. E refiro ainda que há situações que tornam estas adaptações difíceis e que cada caso é um caso.
Para finalizar ficam aqui algumas ideias de como poderão colocar em prática esta nova realidade.
1 – Respeito
Para que haja relação entre os seus filhos para com o/a seu novo/a companheiro/a, e relação dos seus enteados consigo. Para tal, procure demonstrar interesse, verdadeiro claro, pelas atividades dos seus enteados, e evite compará-los aos seus próprios filhos. O objetivo é estimular a relação de amizade entre os mais novos e não a rivalidade.
2 – Dar tempo ao tempo
É normativo que o ciúme , rejeição inicial ocorra. Não tenha pressa de se juntar ou casar. Dê tempo a que os seus filhos se habituem à ideia e a este novo companheiro/a.
3 – Criar regras
Tal como referido, é fundamental que o casal esteja de acordo com as regras da casa e da educação, e que irão permitir uma convivência saudável e feliz.
4– Procurar o dialogo
É fundamental que a comunicação flua acontecimento natural. A conversa entre os vários membros da família é a forma mais adequada para a criação de um ambiente familiar verdadeiro e tranquilo. Aproveitem um momento do dia onde estejam todos juntos, para ficarem juntos e debaterem temas importantes para as crianças, quer seja o seu quotidiano e questões escolares, quer outros assuntos relevantes para os mesmos. Fundamental usar o sentido de humor e brincar com respeito sobre as várias temáticas.
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2 comentários
Muito bom
🙂 <3