
Que pais vamos ser hoje para os nossos filhos?
Todos os dias, todos os momentos presente do nosso dia, temos a oportunidade de escolher qual o caminho que queremos percorrer.
Cada dia é um novo dia, uma oportunidade para traçar um novo sentido, uma chance valiosíssima para começarmos de novo. Cada dia é uma oportunidade para nos reinventarmos como pessoas.
De cada vez que abrimos os olhos para encarar um novo dia, aquele nanossegundo antes de colocarmos os dois pés no chão, é uma ocasião para escolhermos que pais vamos ser para os nossos filhos nesse dia.
Caminhamos pela vida tantas vezes negligenciando as coisas mais simples, as coisas mais importantes. As coisas que verdadeiramente deveriam ocupar o nosso coração, o nosso pensamento, o nosso tempo.
Até que ponto sabemos ao certo o quanto a forma como interagimos com os nossos filhos depende irrevogavelmente da memória emocional que nós próprios trazemos da infância? Uma memória que interfere nas nossas rotinas com dogmas educacionais incontestáveis que nos manipulam os movimentos quando interagimos com eles, tornando-nos muitas vezes inflexíveis e impacientes em momentos em que os nossos filhos mais precisam da nossa empatia e flexibilidade.
É verdade que todos os pais querem o melhor para os seus filhos. A melhor educação, as melhores oportunidades, as melhores roupas, as melhores escolas.
Trabalhamos horas infinitas e por isso mantemo-los ocupados na dança, na natação, em cursos de inglês, mas esquecemo-nos tantas vezes que eles precisam de tempo para descobrir, para criar, para correr riscos, para terem tempo de ser crianças.
Mas os nossos filhos precisam, acima de tudo, de nós. Da nossa compreensão, do nosso afecto, da nossa compaixão. Especialmente quando falham ou nos desiludem. Porque não há ninguém que se sinta pior ou mais aterrorizado do que os nossos filhos quando isso acontece. E não devemos nunca esquecer-nos disso.
Os nossos filhos precisam mais de nós do que precisam de brinquedos, da televisão ou de actividades extracurriculares. Nós somos aqueles com quem os nossos filhos preferem estar. Com quem preferem brincar. E quantas são as vezes que eles nos convidam e nós recusamos, absorvidos pelas nossas rotinas, marionetados pelos nossos horários e afogados nos nossos interesses?
Os nossos filhos precisam da nossa presença, do nosso calor, do nosso amor muito mais do que precisam de roupas bonitas ou gadgets topo de gama. Tudo depende daquilo que lhes ensinamos a precisar, a valorizar, a apreciar.
Preocupamo-nos naturalmente com a saúde física dos nossos filhos, mas e com a saúde dos seus afectos?
Queremos que se comportem correctamente, ou seja, de acordo com as nossas expectativas, com o que é suposto, impedindo-os não raramente de serem eles próprios, de serem ousados ou de confiarem nos seus instintos. Não os compreendemos e eles sofrem com isso. Interpretamos incorrectamente as suas acções ou reacções sem lhes dar oportunidade para se poderem explicar ou para manifestarem as suas opiniões.
Preocupamo-nos com a alimentação dos nossos filhos, com a sua higiene, mas e a sanidade das suas almas? A higiene das suas emoções? Precisamos de conhecer profundamente os nossos filhos e de deixarmo-nos encantar por eles, pelo seu mundo.
Estamos a retirar tempo de qualidade aos nossos filhos. Tempo para estamos disponíveis para eles. Emocionalmente presentes. Para estarmos. Só e apenas estar.
Se ensinarmos uma criança a valorizar objectos, será isso que aprenderá a valorizar e cobrará quando não conseguir obtê-los. Ficará frustrada e revoltar-se-á.
Mas se a ensinarmos a conhecer o mundo que é por dentro, a legitimar o seu valor, a identificar a beleza nas pequenas coisas, a gratidão por aquilo que é e tem, estaremos a contribuir para desenvolver características fundamentais das suas personalidades.
Mas para isso, precisamos de tempo e dedicação. Para entender o seu Universo, para viver nele.
No momento que uma criança entra no nosso mundo, é necessário que ela se torne a nossa prioridade em termos de tempo, em termos de lugar na nossa vida. E isso requer uma grande transformação interior da nossa parte. Como pais, temos de ajustar-nos às necessidades dos nossos filhos, desde que são recém nascidos. Ajustarmo-nos às suas necessidades, aos seus ritmos, à sua linguagem. E isso não se altera com a idade.
Aquilo que teremos com os nossos filhos ao longo da vida serão os frutos do que semearmos na infância. Se semearmos ventos, colheremos tempestades.
Devemos ter a coragem de amar sem restrições e aprender a apreciar e valorizar cada pequeno segundo que temos com os nossos filhos, reagendando as nossas prioridades educativas e colocando os nossos filhos no topo da nossa lista emocional.
Sempre que uma criança entra na nossa vida ela chega com o propósito de mostrar-nos que há algo para aprendermos. Aprendermos com ela. Todos os dias. Em todos os momentos. Para nós aprendermos sobre nós próprios.
E o melhor que podemos fazer é olharmos para dentro de nós, curarmos as feridas da nossa própria herança emocional, limparmos as nossas almas e as nossas próprias emoções, para que possamos educar os nossos filhos de forma positiva, respeitadora e solidária, beneficiando da maravilhosa jornada que é educar. Sentindo gratidão. Tomando atenção à sabedoria que os nossos filhos têm para partilhar.
Para que possamos abrir o nosso coração à transformação dos nossos hábitos e rotinas, à forma como nos dirigimos aos nossos filhos, permitindo que a mudança inunde os nossos corações e a nossa mente.
Há sempre uma razão para tudo aquilo que nos acontece. Há sempre uma lição a ser aprendida. Na verdade, muito mais do que uma só razão, mais do que uma só lição.
Como pais, temos de ser suficientemente corajosos para ler nas entrelinhas e entender quais as lições que estão reservadas para nós.