O que desejo neste dia é que todos os pais tenham em si um pouco do pai da Malala.
Malala Yousafzai cresceu num país onde as mulheres são vistas como seres inferiores. Onde é proibido frequentarem a escola. Onde a taxa de iliteracia ronda uns chocantes 70%.
Malala foi criada como o ser humano capaz que é, independentemente do seu género. Foi educada da mesma forma que os irmãos rapazes. E conforme foi crescendo quis ser mais, quis ser maior. Acreditava num mundo diferente daquele onde vivia.
Onde a educação tinha um papel crucial, principalmente pela forma como o seu pai, professor, via a realidade. E o seu pai não a calou. Podia, afinal viviam num país machista e misógino onde as raparigas deveriam ficar em casa e aprender a cozinhar para o pai e os seus irmãos rapazes. Mas o seu pai, professor e ele próprio activista do direito à educação, amou-a incondicionalmente. Inspirou-a a perceber como a educação era essencial. Fê-la acreditar que a sua voz importa. Apoiou-a, apesar do medo que sempre sentiu. Porque apoiar as convicções de Malala era aceitar que ela corria perigo. E ele poderia ter feito o seu trabalho e apoiado as raparigas que queriam deixar a iliteracia para trás e conseguir independência sem deixar a filha ser o seu maior exemplo.
Mas o pai de Malala fez o oposto. Viu-a fazer frente às autoridades paquistanesas e, por isso, ser cobardemente atingida por tiros. Tinha 15 anos.
Malala foi ferida mas não silenciada.
E teve o pai sempre do seu lado.
O seu nome é Ziauddin Yousafzai e decidiu lutar pelos direitos das mulheres porque, ao crescer, nunca viu escrito o nome das suas irmãs em lado algum – como se não fossem dignas de existirem, serem contabilizadas e deixarem a sua marca por serem mulheres. Porque as deixava em casa quando ia para a escola e não percebia por que motivo não havia a partilha de conhecimento com elas.
O meu desejo para este dia e todos os que a ele se seguem é que todos os pais do mundo sejam capazes de lutar pelos direitos dos seus filhos.
Os oiçam e valorizem.
Lhes dêem a mão quando o caminho é difícil.
Os amem incondicionalmente, os aceitem e os ensinem a falar por si.
A procurar a verdade.
A defender a justiça e a igualdade.
Os ensinem a brincar.
A estudar. E não falo apenas dos manuais escolares, falo do mundo.
O mundo que chega às crianças pela nossa mão. Que seja um mundo interessante, com lugar para curiosidade (e curiosidades), histórias de países próximos e distantes e dos seus povos, dos artistas e dos grandes homens e mulheres que determinaram a história. Das invenções, das descobertas. Do desporto, da música e das artes em geral. A natureza e a necessidade de nos equilibrarmos com ela.
Os ensinem a importância de corrigir os seus erros.
A sentir e a permitirem-se expressar emoções.
Os nossos filhos serão sempre uma parte dos seus pais.
Que essa parte seja a melhor.
Feliz Dia do Pai.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!