Realidade ou Ilusão do casamento

A relação terminara há muito. Nada voltaria a ser como antes e a cada dia que passava o mal-estar aumentava arrastando tudo à volta de ambos…Já não dormiam em sono profundo, já não sentiam vontade de estar um com o outro mas quando se separavam parecia que alguma coisa faltava…Os dias corriam e ninguém tomava a decisão que ambos sabiam que teriam que tomar.

A vida seguia e não era suposto viverem assim…

Ele deu o primeiro passo. Não quis conversar muito sobre o assunto, apesar de ela insistir em esclarecer aquilo que ambos conheciam de trás para a frente.

A diferença entre homens e mulheres estava muito visível neste momento. Ele poupava-os a mais conflitos, pensava… Ela ficava no vazio do silêncio.

Entrou no consultório e a primeira coisa que disse foi que não sabia viver assim… Conheciam-se de miúdos, namoraram muitos anos e o casamento era o que mais queriam naquela fase distante. Diz que com a chegada dos filhos e as responsabilidades profissionais tudo se complicou e desencontraram-se até hoje…

Acha que ainda o ama, mas não tem a certeza de saber o que isso quer dizer. Se por um lado não imagina a vida longe dele, por outro não sabe o que seria de ambos se continuassem juntos. Há anos que deixaram de fazer as coisas que os uniam, porque cresceram e os interesses mudaram ou porque simplesmente deixaram de pensar no que lhes dava prazer fazer.

Já não sabe do que gosta realmente, e acha ridículas as escolhas dele no que toca aos tempos livres. Diz que ele parece que não quer crescer…será?

Isto não é um casamento, pois não? – pergunta angustiada, sabendo de antemão a resposta.

Quando se acalma confessa que sabe que sente falta, não desta relação, mas daquela que ambos projetaram.

Para existir a possibilidade de uma reconciliação tem que haver uma vontade de ambos em reconstruir o que se perdeu aos poucos.

Com o tempo conclui que talvez tenha que investir em si própria, em recuperar o seu “eu” perdido e confessa que ainda quer ser feliz.

Ele tem feito de tudo para manter uma relação cordial com ela. Também ele está a tentar reencontrar-se. Não consegue exteriorizar o que sente da mesma forma mas vai fazendo o seu caminho. Sabe que vão ter que comunicar a bem dos filhos.

Saiu de casa e está a organizar-se para ter um espaço onde possa pela primeira vez cuidar e estar com as crianças sem o apoio dela. O primeiro fim-de-semana com os miúdos correu melhor do que esperava. Tantas vezes lhe disseram que ia ser complicado que acabara por acreditar, mas afinal percebia que não tinha que ser assim.

Sentem ainda um vazio, mas no fundo sabem que é reflexo apenas da mudança de rotinas.

As crianças estão bem. Desde que pararam as discussões parecem estar mais leves e tranquilas. Há dias em que falam abertamente sobre a separação e parecem mais adultas do que os adultos…

Ambos, ele e ela, oscilam entre dias em que acordam convictos de terem tomado a decisão certa e outros em que apetece pegar no telefone e dizer: ” Vamos fazer de conta que nada disto se passou? “

Com o tempo encontram cada um o seu rumo. Percebem que dentro das suas cabeças existem “duas pessoas”. Uma que luta para ser feliz, andar para a frente e encontrar um equilíbrio. Outra, que insiste no ideal de um passado projetado, mas ilusório.

Quando um dia tomam consciência plena e se sentem mais fortes, escolhem ficar com a primeira, escolhem ser a primeira, escolhem viver!

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