Finalmente chegou o dia da reunião de família. Fazemos sempre uma, quando temos um assunto importante a tratar ou simplesmente quando nos apetece falar em modo reunião de condomínio catita e votar em qualquer coisa.
Esta era uma reunião fabulosa-especial, era a reunião onde iriam ser definidas as regras para ser feliz.
Durante uma semana, cada membro da família tirando o gato, tinha de pensar em duas regras importantes para a felicidade e bem-estar da nossa família. Estas seriam depois apresentadas e votadas na reunião pelos restantes membros. Após a reunião, seriam afixadas com lugar de destaque no frigorífico as “Regras da Casa Catita”.
O pequeno catita, em grande euforia, apresentava as suas duas propostas a serem votadas.
Regra número 1
“Número 1: Não nos podemos magoar uns aos outros, no corpo nem no coração.”
Fiquei um bocado atrapalhada-feliz com aquela primeira regra, ao pé das minhas a dele era muito mais madura e profunda. Tinha tantos níveis implícitos do que tentamos, apesar dos mais variados trambolhões, respeitar nele e em nós… Tinha empatia, cuidado com o outro, noção de que o coração se magoa tanto ou mais do que o corpo… Pensei que em vez de regra da casa, devia era ser regra do Mundo.
Sem qualquer tipo de dúvida, a regra número 1 foi aprovada por unanimidade!
Regra número 2
“Número 2” gritava entusiasmado “Respeitar o tempo e o trabalho de cada um.” Ora bem, quem és tu e onde está o meu filho?! Os miúdos têm esta característica fabulosa de nos surpreender. Desde sempre que lhe explico como é importante termos o nosso tempo, darmos tempo e respeitarmos os outros no que estão a fazer. Refiro a importância de passarmos tempo sozinhos, de estarmos na nossa própria companhia e de fazermos o que nos entusiasma para carregar a nossa pilha interior. Ele parecia não ouvir NADA do que lhe estava a dizer. E do nada, vem a regra número 2 cheia de respeito e consideração pelo outro. Foi neste momento, que pensei em dizer que o gato tinha comido o meu TPC das regras.
Regra número 3
Seguiu-se o pai catita com a regra número 3 “Todos os dias, passar 20 minutos em família.” Não temos todo o tempo do mundo, mas temos aqueles 20 minutos. Até podem ser passados no carro parados no trânsito a fazer coreografias idiotas com as músicas que estão a dar na rádio. Ou a dobrar os lençóis da cama, enquanto o pequeno catita mergulha animado por baixo deles. São 20 minutos em que estamos lá todos, juntos. Totalmente presentes.
Regra número 4
Regra número 4 “Não podemos ir dormir chateados uns com os outros”. Esta regra foi a única que definimos quando eu e o pai catita começámos a viver juntos. Nos dias em que ainda estávamos chateados na hora de dormir era MUITO incómoda, mas é tão importante para os sentimentos e pensamentos enrolados não crescerem dentro de nós como ervas daninhas que nos separam um do outro. É uma espécie de restart do computador, em vez de levar a noite toda com um murro no estômago e vontade de morder em alguém. Antes de dormir, tínhamos de falar e resolver a situação. Ou pelo menos dar o primeiro passo, ou o primeiro abraço.
Regra número 5
Já eram quatro as regras aprovadas em família. A regra 5, surge de uma antiga e acarinhada tradição cá de casa. “Fazer uma refeição na mesa e uma no sofá, sempre juntos.” Ora na mesa, ora acampados no sofá com tabuleiros. É a nossa versão de pic-nic na sala. O importante é estarmos todos JUNTOS e a conversar!
Regra número 6
Regra número 6 “Contar sempre as coisas como elas aconteceram” . O ano passado, percebi que o pequeno catita não me contava filme todo. Usava uma versão trailer dos acontecimentos com os ingredientes que achava pertinentes e úteis para a sua versão. Para o ajudar a ser mais claro na sua comunicação e versão dos factos, inventei o jogo “Contar as coisas como elas aconteceram”, que vai trabalhando de uma forma divertida o primeiro passo da comunicação não-violenta, a observação sem julgamento. Olhar com olhos de polícia para os acontecimentos, e apenas referir o que foi visto e ouvido. Para além do ajudar a ser mais objectivo e verdadeiro, trabalha a naturalidade de nos contar o que se passa na vida dele, criando e fortalecendo o canal de comunicação. Esta regra estendia-se agora a toda a família, por isso os “tu nunca lavas a loiça” e “chegas sempre atrasado/a” iriam ser substituídos por observações neutras que promovem o diálogo e não o ping-pong de acusações.
A reunião acabou e todos se sentiam entusiasmados com as novas regras. Nos dias seguintes, perante alguma situação menos consciente, o pequeno catita referia que cá em casa cumprimos as regras, e apontava para o frigorífico.
Sabes, quando as crianças se sentem parte do processo a sua vontade de colaborar é gigantesca porque sentem-se vistos, reconhecidos e ouvidos. Sabem que contam, e que nós também contamos com eles e com os seus pequenos dedinhos para nos apontarem o caminho para as regras mais importantes, as regras que nos fazem felizes.
Em 2011, nasceu o pequeno catita, o que a levou a investigar uma parentalidade com base no mindfulness, promotora de uma autoestima saudável, e que constrói uma relação única entre pais e filhos.