Residência Alternada – A instabilidade pré-concebida ou o Altruísmo equilibrado?
Pedem-me com cada vez maior frequência que me pronuncie sobre o Regime de Residência Alternada.
Que explique porque é que agora parece estar “na moda”. Porque é que de repente tem tantos defensores e parece ser um modelo ideal após a decisão de separação por parte dos progenitores.
A Residência Alternada pressupõe que após a separação dos pais, os menores estejam com ambos por períodos de tempo equiparados.
Não falamos de apenas “dar” o mesmo tempo ao pai e à mãe.
Mas falamos idealmente de uma rotina em que os menores convivam com o pai e com a mãe. Possibilitando ambos os progenitores estarem envolvidos no seu dia-a-dia, como alegadamente acontecia enquanto eram casados.
Pressupõe que as crianças vivam por períodos de tempo iguais e alternados em casa da mãe e em casa do pai.
Se à partida este cenário parece ser o ideal?
– Sim, sem dúvida – diremos todos.
Mas fora idealismos cabe-nos a consciência da realidade. Aquela que cada uma das nossas crianças vive no seu dia-a-dia, de facto.
Da experiência no trabalho diário com crianças e com os pais observo grandes dificuldades de manutenção de rotinas adequadas e equilibradas em famílias ditas “estruturadas”…
Observo muitas dificuldades de comunicação nos casais cuja missão de educar se torna cada vez mais complexa com as exigências profissionais e com a multiplicidade de tarefas que a sociedade “impõe” a cada elemento da família desde os mais novos aos mais velhos…
Observo cada vez mais a fragilidade emocional dos pais.
Pais que confrontados com a necessidade de darem resposta a todas as áreas da vida pessoal, familiar e profissional delegam para ultimo plano, de forma inconsciente, aquilo que de mais relevante se apresenta para o pleno desenvolvimento das crianças – a estabilidade relacional e emocional familiar.
Ora, perante a separação/divórcio, toda a dinâmica se torna ainda mais complexa.
Quando sou questionada acerca da Residência Alternada, invariavelmente caio do pedestal do ideal para a dura realidade do concreto.
Defendo que a Residência Alternada tem que ser uma opção e um ponto de partida sempre que os adultos envolvidos se dediquem a um permanente exercício de altruísmo. Onde deixam de parte as “raivas” e se predispõem a educar em “equipa”. Deixa de haver espaço à tradicional educação em casal mas mantém-se a necessidade de um trabalho coordenado com o outro progenitor. A bem dos filhos, a bem da sua estabilidade.
Exige que ambos acordem em rotinas diárias semelhantes e que ambos comuniquem entre si de forma assertiva; exige que consigam estabelecer e manter com os seus filhos uma relação de confiança e segurança que os conduza de forma estável.
O que cria instabilidade não é o facto de passarem a viver alternadamente em duas casas, estou convicta.
O que desestabiliza é a alternância de rotinas e de expectativas; é a oscilação entre ambientes securizantes e outros desorganizados ou confusos.
Com isto, quero apenas concluir que na minha perspectiva a Residência Alternada pode e deve ser um ponto de partida. Muito mais exigente do ponto de vista da organização e da disponibilidade dos progenitores.
Será sempre bom partirmos do princípio que as crianças se adaptam bem a novas dinâmicas familiares e a novas rotinas. Sempre que os adultos estejam bem seguros dos seus papéis, e não podemos defender um modelo único para todas as Famílias, pois cada uma delas é singular.
O pai e a mãe separam-se e para agravar tudo atribuíamos um papel de pouca competência à figura paterna. Como se o pai tivesse perdido a capacidade de o ser, só porque deixou de viver na mesma casa que a mãe…
Agora que estão separados, ambos têm que proporcionar aos filhos o seu pleno direito a manterem os laços.
A sentirem-se acompanhados por ambos, pai e mãe, independentemente das exigências que as novas rotinas possam trazer. Cabe aos pais definirem em conjunto em que condições.
A casa da mãe e a casa do pai podem muito bem ser o equilíbrio que antes nenhum dos elementos da família conhecia; mas para que este modelo funcione é preciso que seja desejado por ambos, pai e mãe. E da experiência que tenho é quase que obrigatório que esta adaptação se faça com acompanhamento especializado. Acompanhamento que oriente e guie os pais neste novo desafio.
Sempre que não haja a capacidade de cumprir estas regras básicas a opção pelo modelo de Residência Alternada fica comprometida. E com ela toda a possibilidade de êxito no pleno desenvolvimento dos menores.
Por Maria Portugal, Divórcio.com.pt
imagem@papodehomem
2 comentários
o link correto será divorcio.com.pt