Respira fundo, tu consegues.
Eu sei que dás o teu melhor.
Eu sei que o teu filho está a gritar no meio do supermercado, mesmo depois de ter lanchado, dormido e brincado. Estás no lugar daquela mãe que sempre juraste que nunca virias a ser e, para piorar, sentes que fizeste tudo bem.
Ou que se mandou para o chão no jardim a meio de uma brincadeira.
Ou que entrou no quarto, viu alguma coisa de que não gostou e começou a chorar copiosamente.
Eu sei que estás a falar com calma, até estares a falar com menos calma do que gostarias.
Sei que o teu filho não está a ouvir-te, apesar do esforço monumental que estás a fazer.
Que estás a olhá-lo nos olhos e à espera que isso seja suficiente para o lembrar que estás ali, com toda a paciência do mundo, mesmo ele não estando a demonstrar uma grande solidariedade para contigo.
Eu sei que te apetece virar costas e fingir que não é nada contigo.
Que parece que mais vale dizer “desisto” e deixar que ele se canse.
Já te baixaste para falar ao mesmo nível que ele, não levantaste a voz nem a mão e, mesmo assim, não parece ter resultado.
Eu sei que perdeste a paciência e acabaste por o puxar por um braço para o canto para, pelo menos, as pessoas deixarem de olhar para ti como quem sabe tudo, como quem resolveria aquilo num ápice.
Sei que sentes culpa por não conseguir sempre dar a volta à situação.
Que gostavas que a tua voz tivesse um efeito calmante imediato.
Que o teu filho fosse tão teu amigo nessas situações como tentas ser amiga dele.
Sei que gostavas que o caminho não tivesse sobressaltos. Ou pelo menos que os sobressaltos não te deixassem com a cabeça à roda, a dizer o que não querias, a sentir-te menos do que deverias.
Sei disso tudo e sei que tentas.
Eu sei que dás o teu melhor.
Sei que às vezes achas que não és capaz.
Que choras sozinha no duche ou ao adormecer.
Partilhas o que sentes, mas desvalorizas e brincas com a situação para não te doer mais no peito.
Sei que juras que para a próxima vez já tens a solução mágica, já sabes o que vais fazer e dizer.
O que tu não sabes é que não és a única.
Todas as mães sofrem destes sintomas, por este ou por aquele motivo.
Não há filhos perfeitos e mesmo os mais bem comportados, os melhores alunos, os mais espertos, levantam desafios inimagináveis.
Sei que às vezes queres fechar os olhos por mais de dez segundos e fazer o ruído desaparecer… Mas não te esqueças que à tua frente está uma criança a aprender como se deve agir enquanto adulto. E tu és o seu adulto de referência.
Por isso, respira fundo. Tu consegues.
Afasta o mau humor, o mau feitio (teu ou dele), as energias negativas e tenta.
Não deixes de tentar porque nisto da maternidade às vezes é o teu filho que aprende contigo, noutras és tu que aprendes com ele.
E serão mais os dias em que adormeces a lembrar-te de como cantou aquela música pela primeira vez sem ajuda. Em que no supermercado te ajudou a escolher os legumes. Em que no duche reparou que te tinhas esquecido dos chinelos e tos levou até à banheira.
Se precisares, tira nota: os dias maus existem para que possas dar (sempre) mais valor aos bons.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!