
Nenhum pai opta deliberadamente por rotular um filho.
Nenhum pai opta deliberadamente por rotular um filho.
Um diagnóstico não é um rótulo!
É uma chave que nos abre as portas de que necessitamos de transpor. Ou pelo menos, abre algumas delas.
Quando saiu o nosso diagnóstico de Perturbação do espectro do Autismo, depois de passados os primeiros impulsos de incredibilidade, negação, raiva e “não vou é dizer nada a ninguém”, mantive alguma raiva mas nunca escondi de ninguém – nem sequer das próprias piolhas – de que elas não eram neurotípicas, não eram – não são – como os demais. E uma das primeiras coisas que ouvi e de que fui acusada foi a de estar a espetar-lhes com um rótulo em cima que iria prejudicar para sempre o seu caminho.
Nada mais errado.
Vamos por partes:
– ter um nome, ter um diagnóstico, é saber que não estamos loucos e que, afinal, as nossas suspeitas de que o desenvolvimento dos nossos filhos não era típico não eram suspeitas infundadas. Estar na ignorância do que se passa com os nossos filhos é doloroso e incapacitante.
– saber o que se passa com os nossos filhos permite-nos agir em conformidade e fazer as adaptações e adequações necessárias para que possamos, bem ou mal, por tentativa e erro ou não, colmatar algumas das falhas presentes.
– é com um diagnóstico ou a suspeita de um diagnóstico que temos acesso às terapias, por exemplo. E que temos as devidas regulamentações a nível escolar e até a nível social, se for o caso. E que sabemos por onde começar a trabalhar, com quem trabalhar, que objetivos atingir, que meios necessitamos para chegar a esses mesmos objetivos.
Nenhum pai opta deliberadamente por rotular um filho.
Costumo dizer que o nosso único rótulo é o nosso nome e mesmo esse pode ser alterado. E um rótulo tem o valor que lhe atribuirmos. Se falamos de rótulos, com que facilidade nos descartamos de um para reaproveitar o frasco? É mesmo o peso e o valor que lhe quisermos dar.
Para mim, na minha ótica de quem já lida com isto há uns anos e ainda ouve as mesmas pérolas, um diagnóstico é uma resposta, é uma chave para a porta da compreensão, da aceitação, da tolerância, da consciencialização, da sensibilização e, acima de tudo, da inclusão. Mesmo que esse diagnóstico seja inconclusivo ou de difícil acesso.
O esforço de manter uma vida normal em tempos difíceis, a vários níveis… Em suma, uma aventura vivida a 4.
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