Ser mãe é muito mais do que ter um filho
Mais do que criar um filho para o mundo, crio um filho para que saiba que o mundo pode ser um mundo melhor se cada um souber fazer a diferença na sua própria vida e na vida das outras pessoas. E isso incomoda muita gente.
Crio o meu filho com muita liberdade.
Só na liberdade é possível fazer escolhas, é possível saber fazê-las, sem que sejam os outros a ditar o que é certo ou errado. E isso incomoda ainda mais. Crio o meu filho com muita liberdade, para que saiba aprender com os seus próprios erros e se torne uma pessoa melhor a cada dia. E isso provoca confusão nas outras pessoas.
Crio o meu filho cheia de medos, mas sem qualquer receio.
Crio o meu filho de forma diferente do que a maioria das mães e pais que conheço, muitos deles formatados para uma sociedade de farsa, de aparências, do que é suposto ou deve ser. Até ele tem noção disso e comenta com frequência.
Crio o meu filho sem mentiras e dizendo-lhe todos os dias que o amo, várias vezes por dia. Dizendo-lhe que é uma pessoa especial e que deve sempre saber o seu valor, independentemente do que digam ou pensem dele. Conheço bem as suas fragilidades, a sua bondade, os seus silêncios. Conheço bem a sua autenticidade.
Crio o meu filho com a máxima liberdade, para que escolha diariamente a alegria, a paixão, a chama, a comunicabilidade que traz dentro de si e com as quais vive intensamente todos os dias e que tem contagiado muitos dos que passam pelo seu caminho. Outros que não conseguem ou não sabem compreender o seu espírito (a sua liberdade, porque valha-nos nossa Senhora da agrela uma criança tão pequena a tomar certas decisões sozinho! Cruzes credo!) – que não se enquadra – e ainda bem- nos padrões rígidos e atrofiados de algumas mentes menos informadas ou formadas acerca do que é educar as emoções. Ou seja, pacientemente, sem agressividade, sem imposições ou autoritarismos. O preço é alto. Muito alto, por vezes. Mas eu escolho assim.
Vivo intensamente o meu filho e com o meu filho.
Sou muito grata e dou um valor do caraças a cada momento que passamos juntos, mesmo que estejamos a partilhar um silêncio. Há tanta partilha e aprendizagem no silêncio.
Criei condições desde há muitos anos para poder ter toda a disponibilidade possível quando fosse mãe. Trabalhei e trabalho muito para passar o máximo de tempo que tenho com ele. E mesmo se não o fizesse, só a mim isso diria respeito.
Conheço bem a perda e o valor de poder viver alguém ao máximo.
Vivo intensamente com o meu filho brincando, rindo, correndo ou simplesmente olhando para ele, escutando a sua criatividade, a sua curiosidade inesgotável, as suas histórias, a sua capacidade de se expressar com tanto amor, paixão, dedicação em tudo o que toca, a beleza que procura e partilha acerca das pequenas coisas, como a dança dos pássaros todas as manhãs e tardes por cima do nosso telhado.
Ensino ao meu filho espírito de equipa e entreajuda, ensinando-lhe que “juntos conseguimos”. Faço jogos e brincadeiras malucas para cativá-lo para as coisas que se sente menos motivado. Ajudo-o a aprender a gerir as suas emoções mais fortes com a oferta de um abraço ou de um colo.
Brinco. Brinco muito.
Se houve mensagem que o meu pai me deixou no seu legado de amor foi fazer tudo o que pudesse para ser feliz e de que há coisas muito mais importantes na vida do que ser rico, ou bem sucedido. Também não há mal nenhum nisso.
Sermos felizes, fazermos o que nos faz feliz e aproveitar o tempo que temos agora com quem amamos é o mais importante. Agora. E com o meu filho aprendo diariamente a importância do agora e da alegria na viagem, muito mais do que a alegria do destino.
Somos muito parecidos. Em muita coisa, eu e o meu filho. E é por isso que conheço a sua essência para me preocupar muito pouco com aquilo que a maioria dos pais se preocupam. A mim preocupam-me outras coisas.
É que ser mãe, para mim, é muito mais do que ter um filho.
Posso não me lembrar de tantas coisas que é suposto uma mãe lembrar-se, mas pouco me importa: eu estava lá quando elas aconteceram! Conheço-lhe todos os gostos, paixões, frustrações. Posso estar pouco me marimbando para coisas que preocupam ou afligem tantas outras pessoas. Felizmente tenho o privilégio de conseguir ver para lá do muro.
Sei que ter trabalhado 20 anos com crianças me abriu – ainda mais – a cabeça para entender que as pessoas são pessoas – não importa que idade tenham. Pessoas livres. Mais do que uma criança, vejo no meu filho um ser humano admirável, vivo, alegre, com uma personalidade forte, vincada, determinada. que vive tudo de forma intensa e viva e acesa. Com toda a responsabilidade e carga que isso acarreta.
Mais do que criar um filho para o mundo, crio um filho para que seja livre. Alegre. Consciente. Humano. Por mais confusão que isso faça a muitas cabeças.
2 comentários
Lindo ?
<3. Obrigada pelo feedback!