
Ser mãe longe dos nossos e ser mãe longe da nossa mãe
Ser mãe longe dos nossos e ser mãe longe da nossa mãe
Quando somos mães longe dos nossos, temos que aprender a arte de improvisar.
Temos que aprender a relativizar e a plantar raízes muito fortes. Também pensar que se assim o é, só pode ser porque fomos feitas para ser desse jeito.
Ser mãe sem depender de ninguém [para além do pai] é ser-se mãe mais do que a tempo inteiro. É ser-se mãe num todo e num infinito de definições. É ser mãe, tios, primos e avós. Educar como pais, acarinhar como avós e cometer doidices como tios.
É ter que ensinar que se pode crescer assim sendo igualmente ou tão mais feliz. Que não se deve forçar nada que não nos faça sentido e que a saudade tantas vezes existe para se enxergar melhor o que realmente é.
Mas quando a família não está por perto, nem sempre é fácil.
Há dias mais solitários e mais fragilizados. Quando a família não está por perto, há muitas coisas que não conhecemos como realidade e que por isso também não nos faz falta, mas que não é por isso que deixamos de pensar nelas.
Se foi este o rumo que escolhemos, é este o caminho que levamos, mas não esquecemos de como poderia ser, se fosse diferente.
Ser mãe longe da nossa mãe e ser mãe longe dos nossos é ter que ser mais do que já somos.
É sentirmos, também nós, saudades de colo e não o termos quando precisamos.
Precisamos do embalo da segurança, do simples conforto de saber que está ali, ao virar da esquina, mas que não está. É termos que escutar em nós essa necessidade e deixá-la silenciada por dentro. É ter que saber gerir essas emoções e até mesmo as suas próprias contradições de quando estou nem sempre quero estar.
Falta a mão que passa na cabeça, faltam as sopas quentinhas e os chás mágicos. Faltam os alguidares de água quente para massajar os pés doridos.
Faltam as gargalhadas das histórias de infância que se contam quando se compara aquele sorriso, aquele gesto, aquela traquinice.
Há o telefonema e as visitas rápidas.
Há as fotografias e vídeos que se partilham. Mas não há muito mais do que isso. Não há a cumplicidade serena de quem nos conhece de verdade. Não há a compreensão de quem sabe o que somos e no que nos tornamos.
Nós já não somos os mesmos. A mãe que nasceu em mim, não é a mesma miúda que cresceu perto deles. Agora cresceu longe, diferente e distante. Poucos já a conhecem.
Sou a mãe que quero ser por completo, mas não deixo de ser a menina que está longe do que a vida a viu-se tornar.
Por Mafalda | Meia Lua
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