
Socorro! Só podem ser “bichinhos carpinteiros”
Socorro! Só podem ser “bichinhos carpinteiros”
Perde tudo… Não ouve o que lhe digo… Não pára quieto… Tem pilhas que não acabam… Está sempre a mudar de brincadeira… É desorganizado… É muito desatento aos detalhes… Não fica sentado… Parece que não está cá… Está sempre a mexer em qualquer coisa… Só podem ser “bichinhos carpinteiros”!
Reconhece estas características nalgum dos seus pequenotes?
Há quem lhe chame um nome mais pomposo.
Eu gosto de lhe chamar “bichinhos carpinteiros”. Quando estes bichinhos “atacam,” as crianças têm dificuldade em focar e manter a atenção, distraindo-se com muita facilidade. Isto torna difícil dizer que a criança está envolvida na tarefa, seja ela ouvir o professor ou terminar um recado.
Os bichinhos carpinteiros podem deixar as crianças distraídas.
Os bichinhos carpinteiros dificultam tantas vezes a capacidade da criança prestar atenção. E por isso parecem ter dificuldade em seguir direções, terminar tarefas ou controlar os seus pertences. Parecem “sonhar acordadas” e frequentemente cometem erros por descuido. Muitas vezes, na sequência destas dificuldades, a criança tende a evitar atividades que requerem longos períodos de concentração ou que considere aborrecidas.
Os bichinhos carpinteiros não deixam as crianças ficarem sossegadas.
A criança poderá passar muito tempo a correr e a trepar, mesmo dentro de casa. Quando sentada tende a contorcer-se e a saltitar. Algumas crianças falam muito e rapidamente e consideram difícil brincar em silêncio.
Os bichinhos carpinteiros deixam as crianças sempre com muita pressa, sem conseguirem esperar.
A criança interrompe os outros, fala atabalhoadamente e responde abruptamente antes de ouvir as questões até ao fim. Esta impulsividade interfere negativamente na capacidade da criança esperar a sua vez e de pensar antes de agir.
Mas os bichinhos carpinteiros afetam o desenvolvimento socio-emocional e o desempenho social e académico da criança? Depende da criança, depende da Família, depende da Escola. E, por isso mesmo, chame por socorro apenas se a dose de bichinhos carpinteiros for demasiada, ao ponto de interferir e prejudicar o dia a dia da criança nos seus diferentes contextos.
Por tudo isto, e antes de ser necessário gritar por socorro, há algumas estratégias que ajudam a crianças e a família a não deixar os bichinhos carpinteiros crescerem em demasia. Tanto em casa como na escola, o desenvolvimento de atividades lúdicas que promovam o autocontrolo, estratégias para lidar com a frustração, o desenvolvimento de uma autoimagem positiva e a capacidade de planeamento podem revestir-se de grande utilidade. E o melhor de tudo: são atividades divertidas e em família!
Do 5 para o 0.
Para controlar a impulsividade, poderá ser proposto à criança um jogo em que antes de falar, responder ou agir deverá contar de 5 para 0 e só depois responder ou agir. Poderá usar-se a dinâmica do jogo “O rei manda”, em que a criança só poderá executar a ordem depois de contar de 5 para 0. Caso contar em sentido inverso se revele demasiado exigente para o nível de desenvolvimento da criança, nas crianças mais novas, a contagem poderá ser feita do 0 para 5, de forma pausada.
Jogo do SIM, NÃO, JÁ.
De modo a treinar o autocontrolo, o adulto faz perguntas à criança e esta deverá responder sem usar as palavras Sim, Não e Já. Depois, poderá ser a criança a fazer perguntas ao adulto, treinando a atenção na busca das “falhas” do adulto.
Jogo das Estátuas
O adulto põe uma música animada. Enquanto a música dá, a criança pode dançar, saltar, mexer-se como quiser. Assim que a música para (sempre que o adulto pretender, em intervalos de tempo irregulares e sem aviso prévio), a criança deve parar exatamente onde está, mantendo essa posição enquanto durar o silêncio. Este jogo treina a atenção e o autocontrolo.
Para crianças mais crescidas, pode propor-se um treino de respiração Mindfulness.
Pode sugerir-lhe para ambos fecharem os olhos e respirarem fundo, lentamente, como se quisessem encher um balão que têm na barriga, muito devagarinho para ele não rebentar. Através desta imagem, está a ajudar a criança a conseguir concentrar-se e a mobilizar toda a atenção para a sensação da barriga. Ao longo das respirações pode introduzir o suster a respiração para o balão ficar cheio durante um bocadinho, o que vai aumentar a atenção para a sensação.
É natural que a criança se distraia com os barulhos do exterior ou qualquer outra situação ou pensamento. Se isto acontecer, peça-lhe que repare melhor no que o distraiu e depois tente novamente concentrar-se em encher e esvaziar o seu balão, que está na barriga, como se isso fosse agora a única missão que tem.
Faça-o de forma tranquila, sem pressas ou sem o acusar de não conseguir.
Estas tentativas de mudanças dos focos de atenção permitem treinar a atenção e lidar com os diferentes tipos de acontecimentos que nos rodeiam e pelos quais passamos (pensamentos que nos distraem, sentimentos, desconforto físico).
Perde tudo… Não ouve o que lhe digo… Não para quieto… Tem pilhas que não acabam… Está sempre a mudar de brincadeira… É desorganizado… É muito desatento aos detalhes… Não fica sentado… Parece que não está cá… Está sempre a mexer em qualquer coisa… Só podem ser “bichinhos carpinteiros”!
Ainda bem que existem bichinhos carpinteiros ao longo do crescimento.
Não é isso ser criança?
imagem@flickr
Cada flor, com as suas características próprias, constitui um desafio especial e único em terapia.
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