
Sobre as crianças e as conversas sobre a guerra
Sobre as crianças e as conversas sobre a guerra
Tenho lido muita desinformação sobre “como falar da guerra às Crianças “.
Atiram-se frases mais ou menos do senso comum, mas pior, frases com palavras e conceitos subjetivos. As pessoas agradecem, esquecendo-se que depois, na forma de aplicar, tudo pode mudar.
Nomeadamente os profissionais, é importante que relembrem:
1 – A questão é (em grande parte), saber escutar;
2 – Saber escutar é:
2.1 Não faça mais nada. Apenas escute. Lembre-se que as aparências contam. Se estiver a fazer outras coisas, por mais que esteja a ouvir, a Criança pode interpretar que não está a ser escutada. Sei que nem sempre é possível, até porque há várias Crianças na sala, várias coisas a acontecer, mas estes momentos de escuta ativa, têm que acontecer.
2.2 Familiarize-se com o parafrasear. Repita por palavras suas a pergunta da Criança. Acrescente pouco. “Vamos todos levar com uma bomba!” “O quê? Estás a dizer que vamos levar com uma bomba!”. Não seja sarcástico/a nem irónico/a. Apenas repita. Devolva.
3 – Outra grande parte da questão é saber fazer boas perguntas;
3.1 Pergunte sobre sentimentos, emoções, ideias, soluções,…não julgue as respostas. Pergunte e escute. Isso ajuda no desenvolvimento cerebral da Criança.
3.2 Torne-se um apaixonado/a pelas questões e dúvidas das Crianças. Não brinque (no sentido depreciativo) com essas questões.
4 – Cuidado com os rótulos.
Há bons e maus? Só nas histórias infantis. A guerra sim, essa é má. E causa sofrimento, tal como a intolerância, a falta de empatia e a falta de compaixão. Cuidado também com o fulanizar a questão. Queremos que eles odeiem alguém? Não.
5 – Recorde que não é depois de casa arrombada…
Sensibilizar para a paz é um trabalho que já tem feito sempre que permite que a Criança se expresse através da arte/Sempre que a Criança brinca livremente/Sempre que a Criança escuta boas histórias/Sempre que a Criança é Criança à vontade.
6 – Lembre-se que a informação sobre esta guerra serve para si.
Na verdade, a questão é tão complexa e remonta há tantos anos, que até para nós adultos é complexo. A informação que tem que procurar é sobre psicologia infantil e pedagogia. E Educação. É a sua área. Não queira ser o “Nuno Rogeiro” da Escola.
7 – Pensamento crítico precisa-se.
Se acreditarmos em todas as fontes, ou se as nossas fontes não são científicas ou são simplistas, como podemos desenvolver o pensamento crítico das Crianças?
8 – Não é à idade da Criança que temos que adaptar as palavras.
Cada Criança tem a sua história, os seus conhecimentos, o seu nível de desenvolvimento,…estar atento às características das Crianças que tão bem conhece, será uma mais valia.
9 – As Crianças precisam de pessoas com opiniões.
Como poderão desenvolver a sua capacidade de ter opinião, se não contactarem com pessoas com opinião? Obviamente, essa opinião deve ser enquadrada. Falar com os seus colegas sobre o assunto, com frontalidade, vai ajudar a que entenda se tem uma opinião ou se é fundamentalista. Opinião, sim. Fundamentalismo, não.
10 – Tenha uma visão crítica sobre estas ideias.
Seja natural e espontâneo/a. Aja de acordo com os Valores da Escola.
PS: Um desafio que me coloquei como Pai: dizer que a guerra está longe, sem passar a ideia de que não nos diz respeito.
A criação do Mundo Brilhante permite-me visitar escolas de todo o país e provocar os diferentes públicos para poderem melhorar. Agitamos. Queremos deixar marcas.
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