Socorro, a mãe está doente. E agora?
“O cancro não passa despercebido. É muito importante ir preparando as crianças para as várias etapas, desde a quimioterapia, à perda de cabelo e à cirurgia.”
O diagnóstico de cancro chegou depois de umas longas semanas de angústia no corre corre de exames e mais exames para finalmente receber o pior dos diagnósticos! E agora? Porquê eu? O que é que eu fiz de errado para merecer isto?
São muitas das perguntas que passam pela cabeça desta mãe que ainda está atordoada com a notícia! Logo depois vem a grande
preocupação com a família… Como é que eu vou contar aos meus filhos? Quem é que vai garantir a organização da casa e das suas vidas?
Triste, nervosa e cheia de medo, conversamos sobre a melhor forma de falar com os filhos, que entretanto já começavam a intuir que algo de errado se poderia estar a passar e começavam a dar sinais de algum nervosismo e mal-estar. As crianças precisam sempre de saber a verdade, que lhes deve ser contada de acordo com as suas idades, sem rodeios, mas com otimismo e força positiva.
Como é que eu vou falar como os meus filhos sem desabar a chorar em frente a eles?
Será que os pais não podem chorar em frente aos filhos?
Claro que podem… Nem seria natural que fosse de outra maneira. Quando perdemos alguém choramos em frente dos nossos filhos, quando estamos fracos ou doentes também choramos em frente aos nossos filhos, quando nos despedimos deles também choramos e em mais um cem número de situações choramos! Chorar não faz dos pais, seres fracos, nos quais os filhos
não se possam apoiar quando tudo está mais negro, chorar não implica não dar esperança…
Pelo contrário, chorar faz de nós pais, seres humanos com sentimentos e com capacidade de aceder às suas emoções. Com a normalização do sentir os pais também ensinam os filhos que podem chorar, que podem angustiar-se e não desabar! Que o dia seguinte acorda sempre mais sereno e com forças para podermos continuar…
É fundamental que os pais numa situação de doença conversem com os seus filhos, chorem com eles, mas no dia seguinte mostrem-se capazes de levantar a cabeça e continuar a lutar.
A possibilidade de perder a mãe
Para uma criança a possibilidade de perda da mãe é algo que marca profundamente. Mas que não melhora por ser deixada à parte dessa etapa dramática e dura que a família está a viver. Talvez vão amadurecer mais rápido, talvez se sintam tensos e com excesso de responsabilidade. Talvez precisem de se sentir úteis, talvez vivam angustiados. Mas nestes momentos os pais não os podem libertar de nada disso.
Por mais que queiram os filhos vão sentir, vão mudar e vão ser parte integrante da doença. Proteger os filhos nestes casos é permitir que eles participem de acordo com as suas idades. É manter a casa calma e organizada, com a ajuda de todas as pessoas que for necessário envolver. E as crianças saberem sempre quem vai garantir o seu dia-a-dia, as suas deslocações para a escola e para as atividades; É continuarem a viver um ambiente calmo e organizado; É saberem que podem colocar todas as questões, dúvidas e angustias aos pais.
A importancia do pai
Nesta situação o pai é fundamental porque talvez a mãe não esteja com tantas condições para acolher as dúvidas dos filhos e o pai
poderá ser uma peça chave nesse processo. E agarrarem-se de mão dada à esperança que tem que permanecer de “pedra e cal” com mais força do que em qualquer outro momento…
As explicações devem ser claras, objetivas mas não precisam de ser muito detalhadas, sobretudo se estivermos a falar de crianças mais pequenas. O cancro não passa despercebido. É muito importante ir preparando as crianças para as várias etapas, desde a quimioterapia, à perda de cabelo e à cirurgia.
É preciso que as crianças saibam antecipadamente, mas sem dramas, o que é que vai acontecer, sobretudo como é que a mãe vai estar. O cansaço, os enjoos, os vómitos, as diarreias… para que possam integrar que todos aqueles sintomas fazem
parte do processo e não fiquem constantemente na incerteza do que está a acontecer à sua mãe. Quando uma criança imagina, tudo é sempre mais terrível, dramático e traumatizante, do que quando sabe em primeira mão e de forma adequada à sua idade.
Falar com os filhos é fundamental em qualquer família, mas quando se trata de uma doença grave não é fundamental é imprescindível!!
Considero a psicoterapia como uma ferramenta fundamental no desenvolvimento pessoal, na qualidade de vida e de relação com os outros. A psicoterapia é para todos e não apenas para alguns.