
Como lidar com o stress matinal entre pais e filhos
“Há pais que gritam frequentemente com os filhos pedindo para que estes não gritem.”
O stress matinal está a prejudicar os momentos em família?
Oito e meia da manhã, o relógio a dar horas, o pequeno-almoço por tomar, a roupa por vestir, gritos, choro, birras, “não posso mais com isto!”, “despacha-te!”, “anda lá!”.
Um stress.
Cenário comum e que se repete em dezenas de lares portugueses. Rotina que se repete dia após dia. Será que passa com os anos? Será que os miúdos melhoram com a idade? Dúvidas, irritabilidade, culpa… E assim está montado o cenário perfeito para que a família comece a sentir que está a viver em stress constante.
Para os pais, há ainda o acumular das tarefas profissionais e de manutenção da casa. Para os miúdos, o acumular dos conflitos na escola, da dificuldade em algo que está a ser ensinado e dos trabalhos para casa.
Mas será que de alguma forma os comportamentos de cada membro da família acabam por alimentar o stress familiar?
Sim e com certeza!
Os filhos frequentemente testam os pais para verem até onde podem ir, e frequentemente exigem atenção através de coisas que irritam profundamente os pais. Por sua vez, os pais que se sentem soterrados em obrigações, frequentemente dão uma ordem acabando por contraria-la, ou seja, pedem para os filhos que executem determinada tarefa, e acabam por fazê-la.
“Anda lá! Calça as sapatilhas! Temos que ir!” E… dois segundos depois está o pai ou a mãe em stress a calçar os miúdos.
Como estas situações alimentam o stress familiar?
Simples, os pais, enquanto adultos, passam num simples comportamento a mensagem de que ela não tem capacidade de se calçar sozinha, que receberá muita atenção se fizer fitas a vestir-se, e que tampouco precisa de obedecer porque, a tarefa vai aparecer feita na mesma. E assim a mesma cena perpetua-se manhã após manhã.
Mas, como resolver essa situação?
Com treino. Treino dos pais e treino dos miúdos. Num dia calmo em que não tenham horários a cumprir (como um fim de semana, por exemplo), tenha uma conversa honesta com os pequenos e proponha uma competição contra o relógio “tive uma ideia para que nós não tenhamos que discutir pela manhã!”, por exemplo:
“Vou colocar aqui o alarme e quando tocar tens que estar já vestido(a) e com as sapatilhas calçadas. Se conseguires terminar antes do alarme, vais ganhar um prémio!”.
Para tal, coloque um tempo no alarme que saiba que será viável para o seu filho realizar a tarefa com sucesso (5 min a 8 min). O que queremos aqui é que ele se sinta capaz de executá-la. Ah! Mais importante ainda, não ajude! Deixe que ele faça sozinho, incentivando-o a cada etapa concluída com sucesso “Boa! estás mesmo rápido, já conseguiste vestir a camisola! Fixe!! Agora já calcaste as meias!!”.
O prémio a ser dado, nesse caso, pode ser algo tão pequeno como um autocolante ou carimbos numa folha.
Depois, podem ser estabelecidas metas para a semana juntamente com os miúdos (a começar por metas mais fáceis). Se os pequenos conseguirem vencer o alarme três vezes na semana ganham três autocolantes e esta soma de conquistas pode ser trocada por um prémio maior (um kinder surpresa, a escolha da sobremesa para o jantar, um jogo mais barato que queiram, enfim, algo que não tenha um valor elevado mas que seja do interesse deles).
Esses pequenos prémios vão promovendo motivação para a realização de tarefas e o desafio deve ser aumentado a cada conquista. Após duas semanas, conseguindo vestir-se sozinhos e vencendo a meta de três vezes na semana, pode aumentar-se o desafio para conseguir fazê-lo os cinco dias da semana.
Este tipo de intervenção pode ser feita também para tomarem o pequeno-almoço ou para realizar qualquer outra tarefa, incentivando-os sempre com algum prémio pelo sucesso na execução e claro, com muita atenção!
A verdade é que as birras e a postura opositiva não passam com os anos, nem com a idade. Muito pelo contrário, a tendência é piorar se não for tomada nenhuma atitude pró-ativa por parte de quem cuida. O que faz os comportamentos mudarem são 4 coisas:
- Treino
- consistência por parte dos pais
- regras
- e ordem.
Nesse sentido, os pais tem de ter atenção para não transmitirem exatamente aquilo que não pretendem.
Há pais que gritam frequentemente com os filhos pedindo para que estes não gritem.
Ora, quando gritas, o que estás a ensinar é basicamente que ganha quem grita mais alto. Em vez de ensinar que com gritos não se ganha nada, ensinas que gritar é o importante. E, acredita, os miúdos vão aprender a gritar!
O que devemos fazer é exatamente o oposto. Por exemplo, oferecer um elogio assim que a criança pára de gritar –“Fixe! Estou mesmo orgulhosa(o) de ti! Conseguiste acalmar-te e parar de gritar!”.
Assim conseguimos ensinar que gritar não serve de chamada de atenção, mas sim que parando de gritar se ganhar atenção e elogios dos pais!
Essas dicas funcionam muito bem quando bem executadas de forma consistente. É claro que algumas crianças são mais desafiadoras, mas há sempre maneiras de ajuda-las a compreender as regras e autoridade de forma positiva e não autoritária.
Quem poderá ajudar com mais precisão é um psicólogo especialista em atendimento infantil e de pais. Para além de promover rotinas menos conturbadas, um bom profissional ajuda na criação e manutenção de laços afetivos positivos nas famílias, mesmo perante os momentos de crise.
Se sente que sua rotina está a dar cabo do seu dia e da energia da sua família, procure ajuda. Acredite, as coisas não vão melhorar sozinhas e nem com o tempo. É necessário fazer modificações de forma organizada, consistente e coerente, e com ajuda profissional tudo fica mais claro e fácil.
imagem@trudnoca
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