
Superpoderes que eu não me importava de ter
Eu que não quero ser super mãe, dei por mim a pensar até me dava jeito ter um superpoder ou outro. As circunstâncias deste devaneio? Estava a conduzir, em plena auto-estrada, sozinha com os dois, quando começam os gritos vindos de trás. O costume. O cinto está apertado demais, a chucha caiu, querem bolachas, água, fazer xixi, moer-me o juízo.
O que me dava jeito naquele momento? Ser a mulher elástica. Segurar o volante com uma mão, esticar o outro braço, apanhar a chucha, espetá-la na boca do mais novo, tirar a água da mochila e dar à mais velha e pelo caminho ia-lhes dando uma belinha na testa para pararem de gritar.
Quando dei por mim estava a pensar em todos os superpoderes que me iriam facilitar a vida:
Invisibilidade
Para não ter de me esconder dos miúdos na casa de banho.
Invencibilidade
Para me ajudar a não sucumbir à tortura do sono a que sou sujeita vai para vinte oito meses e para resistir a todas as viroses que os miúdos trazem da escola.
Ler pensamentos
Para conseguir perceber o que raio se passa naquelas cabeças para que façam tantas birras.
Controlar a mente
Em conjunto com o anterior, para antecipar as birras, para não serem teimosos como uma mula, para deixarem de dizer que não e para me obedecerem imediatamente! Até fiquei cansada.
Visão noturna
Para não dar pontapés nos brinquedos e cabeçadas na parede, quando me chamam a meio da noite para virem para a nossa cama.
Visão raio x
Para ver onde enfiaram o boneco que tanto procuram ou para estar na cozinha e a controlar os disparates que estão a fazer na sala.
Metamorfose
Porque às vezes me dava jeito transformar-me no pai, principalmente na hora de adormecer a minha filha (com o pai a coisa corre sempre melhor).
Duplicação
Para conseguir responder aos dois ao mesmo tempo, principalmente quando o pai está fora. Duas de mim era o ideal, para dar banhos, jantar e adormecer os dois. Duas mães a gritar também havia de ser bonito de aturar. Aguentem-me.
(Super) Resistência física e mental
Para conseguir levantar-me da cama fresca como uma alface, mesmo sem ter dormido decentemente e para aguentar todas as birras com um sorriso nos lábios e os neurónios intactos.
Agilidade
Para aguentar uma hora com eles no parque, dos baloiços para o escorrega e do escorrega para os baloiços ou para agarrar o mais novo no ar quando está prestes a cair do sofá e a bater com a cabeça no chão.
A força do Super-Homem
“O pai é mais forte que tu!” O que a minha filha quer é que eu alombe com eles ao colo até ao terceiro andar como o pai faz e chama-me fraquinha. Machista!
Velocidade
Para ao fim-de-semana arrumar a casa em meio minuto e alapar o rabo no sofá como não faço há mais de quatro anos.
As garras do Wolverine
Para cortar o cabelinho às mamãs que me irritam no parque. Vocês sabem quais são.
Voar
Para ir para casa sem passar pela confusão do metro e o mau cheiro dos barcos, para abraçar os meus filhos e curar as frustrações do dia com os sorrisos deles. Até que comecem a fazer birras porque não querem partilhar os brinquedos, claro.
Telepatia
Para comunicar com o meu marido sem os miúdos perceberem, do tipo “Meu amor, hoje és tu que vais adormecer os dois que eu estou que não me aguento!”
Se continuasse a pensar nisto nunca mais acabava, queria poder estalar os dedos e deixar de os ouvir a chamar por mim de segundo a segundo, curá-los imediatamente quando ficam doentes, prever o futuro para ter a certeza que estou a fazer um bom trabalho, estalar os dedos e dar por mim deitada numa praia paradisíaca a saborear um gin tónico sem miúdos por perto. Como não tenho superpoderes para além da minha incrível capacidade de andar na rua em piloto automático, vou deixar-me destas tretas e acordar para a realidade.
imagem@andyshango
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Tenho nos meus filhos e no mundo depois dos filhos uma enorme fonte de inspiração e o blogue nasceu da necessidade de escrever sobre o lado menos fofinho da maternidade.