
Tem feito a sua parte?
A minha mulher descreveu-me há dias uma reportagem que a deixou assustada. A organização erradamente conhecida por Estado Islâmico (não têm nada de Estado, nem representam o islamismo), tortura, filma, produz, cria terror, ensina terror, partilha nas redes…enfim, algo assustador para quem estiver atento e para quem é preocupado com o futuro.
Como abordar este tema com as crianças? Como evitar que os nossos jovens se sintam impelidos a aderir a estes movimentos pérfidos?
Bem, em primeiro lugar, é útil pensarmos sobre os perigos de imaginarmos logo que isto são apenas problemas dos outros.
Apresento então algumas pistas para abordarmos a questão com as nossas crianças e jovens. Não abordo (ou pelo menos tento não o fazer) as questões políticas. Naturalmente, este é um problema complexo. Várias causas, várias formas possíveis de o combater, desde um reforço da educação, até ao descobrir as fontes de financiamento e agir com coragem política para as secar. Estes temas não são do âmbito desta reflexão. Esta reflexão aborda a questão da prevenção do ponto de vista psicológico.
- Tal como a minha mulher fez (ela contou-me a reportagem à frente dos nossos filhos) converse em família sobre estas temáticas. Eles ouviram-nos falar do tema. Sentiram as nossas preocupações. Sentiram os nossos receios. Fomos humanos e não hesitámos em deixá-los ver o mundo através das nossas ideias.
- Precisamos de crianças e jovens com a consciência desenvolvida. Enquanto as máquinas, tais como os computadores, estiverem a ganhar espaço, enquanto as redes forem virtuais, enquanto o diálogo não for considerado dos mais nobres tesouros da nossa espécie, torna-se perigoso o rumo da evolução.
- Estamos atentos? Hoje fomos surpreendidos com a notícia de que um turista passou por alguns controlos de aeroporto com o passaporte do irmão. Ninguém reparou. Estamos verdadeiramente atentos ao outro? Olhamos nos olhos? Tentamos ver a alma?
- Entendemos verdadeiramente a força da natureza que existe na nossa espécie enquanto seres biológicos? Se a entendermos, mais facilmente podemos ajudar os jovens a lutar contra os aspectos negativos desta natureza. Enquanto pensarmos que só os outros podem ser “maus”, enquanto pensarmos que há “maus”, fica complicado podermos prevenir problemas deste tipo.
- Ajudamos as nossas crianças e jovens a refletir? Vejamos o nosso exemplo. Conseguimos mostrar-lhes o nosso processo de reflexão? Olhamos para dentro? Conseguimos estar? Estar aqui. Estar agora. Estar. Se o fizermos, eles terão mais facilidade em estarem (bem) consigo próprios.
- Damos valor à Psicologia? Estarei a puxar a brasa à minha sardinha? Não faz mal, sei que é dos peixes mais saudáveis… E a Antropologia? Valorizamos? Será difícil entender a ligação de jovens com capacidade intelectual (muitos com cursos superiores) a este tipo de movimento hediondo, e a falta de perspetivas de futuro e à falta de conhecimento de si e do outro?
- Conversar com um jovem não significa dizer as coisas certas. Não significa ter todas as certezas. Significa mais. Significa dar e receber. Significa ajudar a desenvolver a consciência, a linguagem (e como elas estão relacionadas!), significa ajudar o outro a crescer no sentido mais profundo da palavra.
Todo os que auguram futuros felizes, todos os que dão o seu melhor, todos nós (espero!) façamos então um esforço! Um esforço pelas nossas crianças e jovens.
Pelo futuro.
Um esforço doce. O esforço doce da tomada de consciência.
Vamos então:
- Falar mais;
- Conversar melhor;
- Ajudar a desenvolver a consciência das crianças e jovens;
- Entender que uma coisa é “saber” outra é ter consciência;
- Dar espaço e tempo às crianças para falarem;
- Colocar os jovens a debater e a refletir;
- Promover os clubes, as tertúlias,…
- Investir mais na Psicologia, na Antropologia e na Sociologia;
- Ser obreiros da consciência e honrar este “milagre” que é a evolução.
Um adulto com mais consciência educa melhor. Uma criança com mais consciência, cresce melhor. Um jovem com mais consciência será mais feliz e, esperamos todos, mais ativo na cidadania positiva. Para que o mundo não seja refém de movimentos sórdidos.
Tem feito a sua parte?
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A criação do Mundo Brilhante permite-me visitar escolas de todo o país e provocar os diferentes públicos para poderem melhorar. Agitamos. Queremos deixar marcas.