
Todos diferentes, todos… diferentes.
Uma das coisas que a filosofia para crianças me tem mostrado é a riqueza de ser diferente. Numa educação massificada e com pouco espaço – falo até de espaço físico nas salas de aula – para atender aos pedidos particulares de cada aluno, as aulas ou oficinas de filosofia permitem que essa riqueza flua, naturalmente.
O Frederico – Fred para os amigos – é um menino diferente. Ainda que nada conste a seu respeito em termos de défice de atenção ou um síndroma com um nome mais ou menos conhecido. É diferente. Raramente participa nas aulas, prefere ficar a fazer outras coisas. Quando consigo captar a sua atenção, celebro intensamente. Os seus colegas reconhecem a dificuldade do Fred, em se focar nas actividades.
Lembro-me de ter recusado à turma o pedido para trocarem de lugares: por vezes, tínhamos essa regra, a de trocar de lugares, mas estava sempre sujeita a aprovação, tendo em conta a reflexão que fazíamos sobre o comportamento do grupo e a sua colaboração nos trabalhos para pensar. Naquele dia, recusei a troca de lugares. O Fred entrou no seu registo agitado, recusando participar nas tarefas. Levantou-se e começou a incomodar os amigos. A Sandra, uma menina da sua turma, disse: “Fred, senta-te aqui comigo. Fazemos um quantos queres juntos”. Resultado: o Fred acabou por trocar de lugar.
O Vicente insurgiu-se: “Joana, disseste que não podíamos trocar de lugares, hoje! E o Fred trocou!” Nem precisei dizer nada. Mais uma vez, foi um dos alunos a evidenciar algo que é muito óbvio e que tantas vezes esquecemos. O Carlos disse:
“Sabes, Vicente, às vezes temos que usar regras diferentes, pois somos todos diferentes. Temos que nos adaptar.” E piscou o olho ao Vicente.
A aula prosseguiu tranquila e até conseguimos – eu e os alunos – com que o Fred estivesse efectivamente presente nos trabalhos, a colaborar na medida do seu interesse.
Esta diferença existe – e é muito rica. É evidente, ainda que nem sempre consigamos reparar nela, pelos mais diversos motivos. Pais, educadores e professores deverão fazer um esforço diário para que esta diferença não se esbata. Claro que queremos que todos os meninos tenham direitos iguais – o que não queremos é que sejam iguais, protagonistas de uma identidade amorfa e sem textura, sem riqueza.
Joana Rita Sousa,
para Up To Lisbon Kids®
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