
Três marcas de infância que duram para sempre
A infância é o tempo em que vivemos um belo paradoxo; somos capazes de construir as mais fortes bases no mais curto espaço de tempo, sem darmos por isso. Aos quatro anos já começamos a definir a nossa maneira de ser.
A infância deixa marcas que duram para sempre. São marcas imutáveis que se irão refletir essencialmente na atitude que temos connosco e com o resto do mundo. No entanto, algumas destas marcas são mais persistentes e profundas, devido ao grande impacto que causam na mente da criança.
Vamos falar sobre as três marcas de infância que nunca se apagarão em adulto.
A impossibilidade de confiar desde a infância
Quando uma criança é enganada ou traída pelos pais ou educadores, dificilmente irá confiar nas outras pessoas ou em si própria. Terá que lutar muito contra a tendência à desconfiança para conseguir estabelecer vínculos de intimidade com outras pessoas.
A criança é enganada quando lhe são prometidas coisas que não são cumpridas. Para elas, é importante que recebam o brinquedo prometido caso obtenham sucesso em alguma coisa em determinado momento, que sejam levadas ao parque que lhes prometeram, ou que lhes seja dedicado um momento, quando tal lhes foi prometido.
Esses tipos de atitudes podem passar despercebidas ou não ter qualquer importância para os adultos. No entanto, para a criança, representam um aprendizado sobre o que podem esperar, globalmente, das pessoas.
Se a criança observa que os pais mentem, aprenderá que a palavra carece de valor. Será difícil, então, acreditar nos outros e esforçar-se para fazer com que a sua própria palavra seja confiável. Essa marca fará com que, durante o seu desenvolvimento, tenha grandes dificuldades em criar os laços e em construir uma verdadeira intimidade – refúgio – no qual se sinta segura com alguém.
O medo de ser abandonado
A criança que se sentiu só, ignorada ou abandonada, começa a acreditar que a solidão é um estado completamente negativo, e poderá optar por dois caminhos: ou tornar-se excessivamente dependente, procurando constantemente alguém que a acompanhe e proteja, ou poderá renunciar à companhia como medida de precaução frente ao sofrimento de um potencial abandono.
Os que optam pelo caminho da dependência chegam a ser capazes de tolerar qualquer tipo de relação para que não fiquem sozinhas. Acreditam que são completamente incapazes de escolher a solidão e, por isso, estão dispostos a pagar qualquer preço por companhia.
Aqueles que escapam do medo do abandono pela via da independência inflexível tornam-se incapazes de desfrutar a proximidade afetiva de alguém. Para eles, o amor é sinónimo de medo. Quanto mais afeto sentem por outra pessoa, mais cresce sua ansiedade e seu desejo de escapar. São o tipo de pessoa que rompe vínculos cativantes para deixarem de sentir a angústia que uma eventual perda da figura amada poderia causar
O medo da rejeição
Uma criança que foi permanentemente questionada ou censurada pelos pais costuma transformar-se numa inimiga de si própria. Dessa maneira, desenvolve um diálogo interior no qual se censura e se recrimina a si mesma.
Esta criança, na sua vida adulta, provavelmente jamais se vai sentir confortável com o que faz, o que diz ou o que pensa. Irá sempre encontrar uma forma de sabotar os próprios planos e será muito complicado aceitar as suas virtudes e acertos. Sentirá que não merece afeição, nem a compreensão de ninguém, e que as suas expressões de amor não têm valor.
No geral, tornam-se adultos isolados e volúveis que sentem pânico em situações de contato social. Simultaneamente, são extremamente dependentes da opinião alheia. À mínima crítica, desvalorizam-se por completo, já que não sabem distinguir uma observação objetiva de um ataque pessoal.
Se, além de rejeitada, a criança também for humilhada, as consequências são ainda mais graves. As humilhações deixam sentimentos de ira não resolvidos que se transformam numa sensação de impotência contínua e que, muitas vezes, dá lugar a pessoas tiranas e insensíveis, que acabam por humilhar os outros.
As marcas que essas experiências da infância deixam são muito difíceis de modificar. No entanto, isso não quer dizer que não possam ser trabalhadas para que se tornem em algo mais positivo. O primeiro passo é reconhecer que elas existem e que devem ser trabalhadas para que não determinem por completo o resto das nossas vidas.
Publicado em A mente é maravilhosa,adaptado por Up To Kids®
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