Tudo acontece quando menos esperamos

“O leite só ferve quando você sai de perto”, foi a melhor metáfora que encontrei para definir a ansiedade do acontecimento. Quando queremos muito que algo aconteça, parece que o tempo pára. Queremos um emprego novo, queremos encontrar o príncipe encantado, queremos engravidar, queremos, queremos, queremos, mas parece que nunca nada vai acontecer. De repente, deixamos de enviar CV porque estamos numa fase com imenso trabalho,  e liga-nos alguém que conhecemos sabe Deus onde, e que se lembrou de nós sabe Deus como, e que nos recomendou para o cargo supra sumo da banana da empresa XPTO. Exatamente para onde já tinhamos enviado diversos e-mails e nunca obtivemos resposta. A entrevista está marcada. O nosso bom desempenho no emprego atual foi reconhecido e isso pode catapultar-nos para o outro nível.

Durante muito tempo andei à procura do príncipe encantado, do marido ideal, o futuro pai dos meus filhos. Avaliava cada colega de trabalho, cada homem que conhecia, às vezes até os empregados do restaurante ou do banco: “Este é bem giro! E simpático. Tem emprego e parece responsável.” – E não, não estava desesperada, nem me sentia sozinha. O meu melhor amigo, que estava sempre rodeado de raparigas (saía-se bem demais até) dizia que não eram para mim, que merecia melhor. Enquanto procurava pelo homem ideal não estava concentrada em mim, naquilo que realmente me fazia feliz. E ao fim de algum tempo tudo aconteceu com naturalidade, quando menos esperava. Hoje em dia, o meu melhor amigo é também o meu marido e o pai das minhas filhas. E claro, deixou de andar rodeado de miúdas. Ou melhor, continua mas três delas têm menos de 6 anos.

A pensar na nossa história e na expressão ideal para falar sobre as expectativas que criamos e a ansiedade de viver o futuro hoje, dei com a crónica “O leite só ferve quando você sai de perto”. Porque tudo acontece quando menos esperamos…

“Em meados dos anos 80, lá em Minas, o costume era comprar leite na porta de casa, trazido pela carroça do leiteiro, que vinha gritando “Ó o lêeeeeite!!!”.

Minha mãe corria porta afora e o leite _ fresquinho, gorduroso e integral_ era despejado na leiteira para nosso consumo. Porém, era um leite impuro, não pasteurizado, e necessitava ser fervido antes de consumir.

No início, minha mãe tinha um ritual no mínimo interessante para esse evento: Colocava o leite na fervura e saía de perto. Literalmente esquecia. Simplesmente I.g.n.o.r.a.v.a.

É claro que o leite fervia, subia canecão acima e despencava fogão abaixo. Eu era criança, e quando via a conclusão do projeto, gritava: “Mãe!!! O leite ferveu!!! Tá secaaaannndo…” e ela vinha correndo, apavorada, soltando frases do tipo “Seja tudo pelo amor de Deus…” e desandava a limpar o fogão, o canecão, e ver o que sobrou do leite_ pra tudo se repetir no dia seguinte, tradicionalmente.

Até hoje não entendo o porquê desta técnica. Parecia combinado, tamanha precisão com que ocorria. Mais tarde, ela mudou de estratégia. Eu já era maiorzinha e podia ficar perto do fogo. Assim, ficava ao lado do fogão, de olho no leite esquentando_ pra desligar assim que a espuma subisse, impedindo que transbordasse. Foi assim que aprendi uma grande lição:

O leite só ferve quando você sai de perto.

Não adianta ficar sentada ao lado do fogão, fingir que não está ligando; até pegar um livro pra se distrair. É batata: ele não ferve. Parece existir um radar sinalizador capaz de dotar o leite de perspicácia e estratégia. Porque também não basta se afastar fingindo que não está nem aí. O leite percebe que é só uma estratégia. E só vai ferver ( e transbordar) se você esquecer DE FATO.

A vida gosta de surpresas e obedece à “lei do leite que transborda”: Aquilo que você espera acontecer não vai acontecer enquanto você continuar esperando.

Antigamente o sofrimento era ficar em casa aguardando o telefone tocar. Não tocava. Então, pra disfarçar, a gente saía, fingia que não estava nem aí (no fundo estava), até deixava alguém de plantão. Também não tocava. Porém, quando realmente nos desligávamos, a coisa fluía, o leite fervia, a vida caminhava.

Hoje, ninguém fica em casa por um telefonema, mas piorou. Tem email, msn, facebook, whatsApp, e por aí vai. O celular sempre à mão, a neurose andando com você pra todo canto. E o leite não ferve…

Acontece também de você se esmerar na aparência com esperança de esbarrar no grande amor, na fulana que te desprezou, no canalha que te quer como amiga. Então ajeita o cabelo, dá um jeito pra maquiagem parecer linda e casual, capricha no perfume… e com isso faz as chances de encontrá-lo(a) na esquina despencarem. Esqueça baby. O grande amor, a fulaninha ou o canalha estão predestinados a cruzarem seu caminho nos dias de cabelo ruim, roupa esquisita e vegetal no cantinho do sorriso.

Do mesmo modo, se quiser engravidar, pare de desejar. Não contabilize seu período fértil e desista de armar estratégias pro destino. Continue praticando esportes radicais, indo à balada, correndo maratonas. Na hora que ignorar de verdade, dará positivo.

A vida _como o leite_ não está nem aí pra sua pressa, pro seu momento, pra sua decisão. Por isso você tem que aprender a confiar. A relaxar. A tolerar as demoras. A não criar expectativas. A fazer como minha mãe: I.g.n.o.r.a.r…

E lembre-se: Tem gente que prefere ser lagarta a borboleta. Sem paciência com os ciclos, destrói seu casulo antes do tempo e não aprende a voar…” – Fabíola Simões – instagram@asomadetodososafetos

imagem@tumbrl

 

 

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