Sair da nossa zona de conforto, daquilo que conhecemos, pode ser esmagador.
Por vezes preferimos morrer atravessados pelos arqueiros do conhecido a arriscarmo-nos a abrir uma porta sobre o incógnito.
Thoreau dizia que o universo é muito mais vasto do que as nossas percepções. Eu diria: muito, muito mais.
Cada criança é um mundo em si mesma. Um universo maravilhoso, único, fascinante à espera de ser descoberto.
Prova a história que uma educação rigorosa, em que o adulto é a figura de autoridade, produz crianças revoltadas com pouco interesse exterior em criar um vínculo emocional com os pais. Por dentro, é a sua carência mais profunda. Por outro lado, uma educação permissiva educa crianças infelizes com necessidade de testar permanentemente os seus limites. Todas as crianças precisam de perceber qual o seu lugar no seu mundo. Exterior e interior.
Na formação de um ser humano, não é suposto existirem auto-estradas que nos levem mais depressa ao nosso destino. Podemos querer resultados rápidos, mas todos sabemos que depressa e bem, não faz ninguém.
Acompanhar uma pessoa na sua fase de desenvolvimento mais profunda e importante requer tempo, perseverança e consciência. Mas acima de tudo este acompanhamento requer disponibilidade emocional. Mas não uma disponibilidade emocional arbitrária. Uma disponibilidade emocional positiva. Este é o alicerce fundamental para uma estrutura emocional forte.
Temos de saber semear com inteligência e ir caminhando. E saber colher com paciência. É este o segredo que une pais e filhos profundamente.
Disponibilidade emocional positiva requer empatia, compreensão e aceitação. Envolve colocarmo-nos nos sapatos dos nossos filhos. Ver as coisas da sua perspectiva. Só assim poderemos perceber as suas motivações e o que está por detrás das suas condutas.
Sermos pais implica ajudarmos os nossos filhos a encontrarem soluções nos seus momentos menos bons. Significa ajustar os nossos métodos às crianças e não exigir que sejam elas a adaptar-se ao nosso mundo. Não estão organicamente equipadas para isso.
Quando pais me perguntam o que podem fazer para ter uma melhor relação com os filhos, simplesmente respondo: “Trabalhe as suas emoções, aprenda a escutar os seus filhos e seja grato. Pergunte-se sempre: o que faria o amor?”
Claro que há muito mais que podemos e devemos fazer. Mas se começarmos por aqui, temos pelo menos o início do caminho traçado. E isso é para ser celebrado como uma vitória.
Educar crianças e adolescentes nos dias de hoje implica – suplica! – um conhecimento profundo sobre o funcionamento da mente. Educar passa por formar as emoções acima de qualquer outra coisa. Desde que a criança nasce. Até mesmo antes. Porque a verdadeira e mais pura arte de educar, é um processo que exige preparação.
E educar as emoções inclui deixar de educar por impulso para passar a educar de forma consciente a cada momento. Compreender, abraçar, conversar. Saber escutar os nossos filhos em vez de ralhar ou castigar. Estar lá. Estar mesmo. Dar de nós. E receber deles a sua sabedoria.
Há sempre várias formas de fazer a mesma coisa. E a forma que escolhemos educar os nossos filhos, somos nós que a determinamos. Mas devemos ter consciência que cada passo que damos é uma escolha. Quer queiramos ou não. Quer estejamos cientes disso ou não.
Há sempre vários caminhos que podemos seguir, tendo sempre em mente que educar é ajudar um individuo único, fascinante, com personalidade própria, com cunho próprio. Com vontades, desejos e necessidades exclusivas que conta connosco para lhe darmos um solo estável e sermos o seu porto seguro.
Educar de forma positiva é o grande segredo para educar crianças e jovens saudáveis, felizes e bem sucedidos. Motivando-os, inspirando-os. Criando um novo dicionário emocional, sem castigos, ameaças ou intimidações.
É caminhar lado a lado sem restrições. Mostrar e partilhar sem impor. Respeitar e aceitar. Saber receber.
Educar para o mundo não força um pai ou uma mãe a ser hostil com o argumento que o mundo é hostil. Ao contrário. É apetrechar a criança com o equipamento emocional mais high-tech para que se sinta motivado para criar um mundo diferente. Acima de tudo um mundo interior diferente. Mas para isso precisa de saber que pode contar connosco. Sentir que pode.
Estudos revelam – e a minha experiência pessoal e profissional também – que a educação positiva ajuda as crianças a aprender sobre a consideração e a responsabilidade, fortalece os laços familiares, e cria pais e crianças mais felizes.
É um caminho a ser traçado progressivamente, sem pressa em resultados imediatos. Um caminho que passa por regularmos as nossas próprias emoções, que passa por nos transformarmos por dentro.
O mundo parece muito diferente quando o observamos com outros olhos. Devemos perder o medo de olhar constantemente para as coisas da perspectiva dos nossos filhos. Através dos seus olhos, escutando os seus silêncios. Somos pais! Escolhemos sê-lo! É suposto olharmos o mundo de outra forma! Com esperança na vida e, acima de tudo, dando crédito aos nossos filhos. Eles precisam de nós mais do que nós imaginamos. Independentemente das suas idades. Precisam do nosso colo, do nosso apoio incondicional. Precisam que nos apaixonemos por eles, que lhes peçamos desculpa sempre que nos excedemos, que reconheçamos as nossas falhas.
Só poderemos colher amor dos nossos filhos se semearmos e regarmos a nossa relação com eles com amor. Ou corremos o risco de a nossa relação com eles se tornar apenas uma ligação de sangue. Os nossos filhos crescem num instante. E todos os segundos contam.
Observe e escute atentamente os seus filhos hoje. Descubra o seu propósito enquanto pai ou mãe.
Quando achamos que sabemos uma coisa, devemos olhá-la de outra perspectiva, mesmo que nos pareça ridícula. Atreva-se a traçar hoje um novo caminho para a sua família.
Lembre-se: o universo é mais extenso do que as nossas percepções. Devemos sempre tentar. Só assim nos poderemos surpreender.
Por MJ Silva,
para Up To Lisbon Kids®
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