
Uma criança superprotegida é uma criança desprotegida
Uma criança superprotegida é uma criança desprotegida
Quantos de nós vimos de uma educação superprotegida, em que a premissa máxima era “o mundo é um lugar inseguro” ou “não podemos confiar em ninguém”? Quantos de nós fomos avisados vezes sem conta com palavras como “atenção”, “cuidado”, “vê o que estás a fazer”, “não faças isso”, “eu disse-te”, “é perigoso”, entre muitas outras?
Palavras que marcam o nosso estado de alerta ao expoente máximo. Que aumentam os níveis de stress e cortisol, que nos impedem de conectar como os outros de uma forma saudável, logo danificando a nossa autoestima.
Uma criança superprotegida sente que é necessário fazer de tudo o que pode e o que não pode para sobreviver. O seu estado é de constante alerta, o seu corpo está maioritariamente tenso e contido, vivendo num medo que a pode rapidamente paralisar.
Uma criança superprotegida vem de uma história de vinculação insegura. De pais ausentes física ou emocionalmente que acreditavam que a criança aprende melhor se se salvar sozinha ou então que não pode ter contato com o mundo. Vive num contexto que é pouco estimulante, poucas palavras, pouco ou nenhum toque, que é muito controlado. As regras são de tal forma exigentes que a criança não pode dar um passo em falso. Estas crianças acabam por não conhecer o mundo, não sabem o que é sentirem-se seguras, nem sabem como pedir ajuda. A superproteção paternal até pode ter uma ótima intenção, evitar a dor e o sofrimento, já que o mesmo não é tolerado pelos seus cuidadores.
Qualquer mãe e pai quer proteger o seu filho, sem dúvida. A questão é: como o fazem.
A superproteção advém da nossa necessidade de controlo e de segurança. Contém muitos dos nossos medos enraizados que nos impedem de sentir o que está acontecer e aquilo que é realmente importante na relação com a criança.
Proteger não passa apenas por dizer o que fazer e o que não fazer, proibir ou negar acesso a determinados eventos ou esconder ao máximo comentários alheios e desagradáveis que lhes magoem a autoestima. A criança irá, inevitavelmente, passar por momentos que lhe trarão dor. A perda de um ente querido ou do seu animal de estimação. O seu primeiro desgosto amoroso ou a traição de um amigo. Estes acontecimentos surgirão, e irão passar ao fim de um tempo. Aqui, entra o nosso papel de cuidadores que querem proteger os seus filhos. Proteger não significa salvar, mas sim que sejamos adultos responsáveis, para que possamos lhes dar um sentido de segurança, demonstrar-lhes que estamos lá para eles e que vamos fazer o que está ao nosso alcance.
Se quer realmente criar um vínculo seguro com o seu filho, reflita:
- em que medida as suas ações estão a permitir que ele conquiste a sua própria independência?
- em que medida confia realmente no seu filho?
- quanto espaço lhe dá para que ele possa vir ter consigo sempre que precisar?
- questione-se se os limites estão bem claros para todos.
Um vínculo seguro é encontrarmo-nos a meio caminho entre a liberdade e a segurança, entre a independência e a dependência, entre pertencer a um todo e estarmos bem sozinhos.
Sempre senti em mim a coragem de ajudar o próximo. Sentia que o caminho começava por mim, enquanto pessoa e como terapeuta e rapidamente percebi que esse caminho é para a vida toda.
1 thought on “Uma criança superprotegida é uma criança desprotegida”