Usar a comida para recompensar os filhos será uma boa estratégia?
Não são raras as vezes em que os pais oferecem alimentos, maioritariamente, doces e fast-food, como recompensa por algo que o filho fez. Se se porta bem, pode comer sobremesa. Se tira boa nota pode ir comer um hamburger.
Que efeitos têm estas atitudes a médio e longo prazo na vida da criança?
A alimentação tem um papel central na vida emocional das pessoas em termos de como gerem as emoções e como a comida é moderada pelo seu estado emocional. Os alimentos são codificados com significados (ex.: prazer, culpa, satisfação, aborrecimento etc.), que são aprendidos desde a infância através de processos de recompensas e associações e fornecem-nos um rico conjunto de crenças sobre a comida. Da mesma forma, tentando controlar a ingestão da nossa própria comida ou a de terceiros, estamos a atribuir significados a alguns alimentos.
Assim se compreende a importância das atitudes parentais em relação à alimentação dos filhos.
Para além de determinarem a forma como se relacionam com a comida, também são importantes para o processo de aprendizagem social e emocional da criança.
Algumas investigações têm estudado o efeito das recompensas no comportamento alimentar, como por exemplo: “Se comeres os vegetais eu vou ficar satisfeito contigo”, chegando à conclusão que recompensar o comportamento alimentar parece melhorar preferências alimentares das crianças.
Por outro lado, outra investigação explorou o impacto de usar a comida como recompensa, em que o acesso ao alimento é contingente a outro comportamento. Por exemplo: “Se te portares bem, podes comer um chocolate.”. Os resultados sugeriram que usar a comida como recompensa aumenta a preferência por esse alimento, podendo ter um efeito negativo nos hábitos alimentares da criança.
Deste modo, as associações recompensatórias ou punitivas que envolvam comida podem fazer com que a criança estabeleça uma relação disfuncional com os alimentos.
Por exemplo, poderão, sem se aperceberem, usar a comida como meio de regular as suas emoções e, muitas vezes poderão comer porque interpretam os sinais internos de necessidades emocionais como fome.
Quando o seu filho está triste, aborrecido ou ansioso costuma querer comer alimentos calóricos? Fique atento e se a resposta for afirmativa, procure ajuda profissional.
Então o que fazer se o seu filho já estiver habituado ao uso dos alimentos como recompensa?
1 – Pense nos motivos pelos quais o faz. Não haverá outras formas de mostrar apreço pelo comportamento positivo do seu filho?
2 – Crie formas de substituir a comida por outros reforços. Dar atenção especial à criança, encorajamento e elogios são as recompensas mais gratificantes a curto e a longo prazo, estreitam as relações familiares e não custam dinheiro! Pode dar um elogio verbal, dar beijos e abraços, dar-lhe uns minutinhos extra de brincadeira, fazer um jogo juntos, deixá-lo ir para a cama 15 minutos mais tarde, levá-lo a um sítio que ele goste, deixá-lo ir brincar a casa de um amigo, etc…
Por Raquel Carvalho, Psicóloga Clínica – Mestrado Integrado em Psicologia (FPCE-UC) Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia
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