Vais ter um irmão!

Ter um irmão é um acontecimento que muda radicalmente a vida de qualquer criança. E embora muitas crianças queiram ter um, a verdade é que há crianças que não o querem e outras que nunca pensaram sequer nesse assunto. Os pais têm um papel importante na forma como preparam o seu filho ou filha para a chegada de um irmão mas devem estar à espera de reacções que, por vezes, não parecem as melhores.

A notícia

Se a criança já pedia um irmão, é natural que os pais se sintam ansiosos por dar-lhe a notícia na esperança de ver a sua reacção. Mas pode ser sensato esperar um pouco. O tempo é um conceito abstracto e bastante difícil de compreender pelas crianças. Para elas o tempo obedece a regras estranhas e é difícil de contabilizar (passa muito depressa nos momentos divertidos e muito devagar nos momentos aborrecidos). Poderá ser melhor para a criança que lhe diga o mais tarde possível, quando já houver uma barriga (mesmo que pequena) ou uma foto de ecografia.

Deverá escolher um momento calmo, sem interrupções nem pressas e, de preferência, com todos os membros da família nuclear presentes. Depois de dar a notícia deverá disponibilizar- se para as perguntas que a criança tenha, e que podem ser tão diferentes como querer saber como é que o bebé está na barriga até onde vai ser a cama do bebé. Prepare-se para responder de forma simples sem medo de dizer que ainda não pensou em (ou não sabe) tudo, mas disponibilizar-se para pensarem ou descobrirem juntos.

Conforme vai vendo a barriga crescer e vai dando a novidade a familiares, amigos e outras pessoas, é normal que lhe vão surgindo algumas dúvidas e que vá querendo saber mais: sobre a gravidez, sobre os bebés, sobre ter um irmão, etc. Se ele não demonstrar qualquer curiosidade, poderá ler-lhe um dos variados livros para crianças sobre este assunto ou até levá-lo a uma consulta ou ecografia. Ajuda a que ele se sinta envolvido, pense no assunto e mostra que os pais estão disponíveis para falar sobre isso. Respeite o seu ritmo e não o obrigue a falar. Espere pela iniciativa dele.

Também poderá acontecer, especialmente se já tiver uma menina, que ela de repente passe a brincar com os bebés mesmo que já não o fizesse há muito tempo. Mesmo que tenha um menino, e se ele ainda aceitar bem (normalmente se tiver menos de 6 anos, deverá aceitar) arranje-lhe um bebé e alguns adereços (biberon, prato e colher, fralda, etc.). Se a sua família é muito conservadora e não quiser dar-lho explicitamente (embora ache que pode fazê-lo sem problemas), diga-lhe que “é de uma menina”, que só está “a guardá-lo” e que pode brincar e tomar conta dele à vontade. Este tipo de brincadeiras é muito bom para que as crianças se identifiquem com o papel dos cuidadores, facilitando a aquisição do papel de “irmão mais velho” que lhe vai ser exigido por todos depois do nascimento do bebé.

Procure manter as suas rotinas o mais regulares possível mas prepare-se para algumas regressões, principalmente se ainda é muito pequeno ou se fez algumas aquisições recentemente (como o controlo dos esfíncteres, deixar a chupeta ou adormecer sozinho).

Tente o mais possível não reagir negativamente e aproveite para mostrar e dizer-lhe sempre que gosta muito dele e que isso não vai mudar nunca.

Preparar o nascimento

Se a criança perguntar poderá explicar-lhe que, para nascer o bebé, a mãe terá de passar alguns dias no hospital e só depois trazer o bebé para casa.

Mais perto da data, e quando já souber como vão ser as coisas, deve explicar-lhe onde e com quem vai ficar e como vão acontecer as coisas. Ela deverá obviamente ser levada a visitar a mãe e o bebé no hospital para que se sinta envolvida em tudo. Prepare-se para alguma reacção mais inesperada, como querer deitar-se ao seu colo ou pedir-lhe que brinque com ela nos momentos mais inoportunos.

Procure ter muita paciência, explique-lhe tudo com muita calma. Se puder, aproveite para focar a sua atenção nela e deixe que outra pessoa pegue no bebé, pelo menos enquanto ela estiver presente.

Um bebé em casa

Dependendo da idade da criança, ela poderá sempre ser envolvida nos cuidados ao bebé. Pode escolher um conjunto para o bebé vestir, trazer uma fralda ou contar uma história para o bebé (mesmo que não saiba ler). Em último caso, pode mudar a fralda ao seu bebé enquanto a mãe muda a do mano. Todas estas actividades com o bebé fazem com que a criança se sinta envolvida e valorizada. Mas pode também acontecer que ela não queira participar e, nesse caso, não a obrigue nem comente negativamente.

Mais importante é que a criança sinta que pode expressar as suas emoções livremente sem se sentir obrigada a corresponder ao que os adultos esperam dela. Mesmo que haja alguma reacção mais negativa, não censure, tente não se irritar, procure compreender (“sei que te sentes aborrecido porque não posso brincar contigo”), aceitar e reforçar sempre o seu amor (com um abraço, um beijinho ou outro miminho). Todas as semanas, pelo menos, pai e mãe deverão reservar um pouquinho de cada um para ela. Pode ser só ler um livro, jogar um jogo ou ir até ao parque. Mas deverá ser só vosso, sem o bebé por perto. Desta forma, mais dificilmente ela sentirá que o bebé é uma ameaça ao amor e atenção dos pais.

Mais tarde

Embora as rotinas possam mudar logo que o bebé vem para casa, a verdadeira mudança para a criança mais velha acontece só decorrido sensivelmente um ano. Durante o primeiro ano, ela ainda é a criança da casa e o bebé não ameaçou realmente o seu espaço.

Quando o bebé começa a andar, a falar e a querer brincar com os brinquedos da criança mais velha é que esta vai sentir realmente a intrusão deste num espaço que, até aí, era só seu. Vai ser obrigada a partilhar brinquedos e brincadeiras. Vai ser obrigada a partilhar a atenção dos adultos com um bebé que faz gracinhas, diz coisas giras e está a conhecer o mundo. Nesta altura é que ela pode sentir que está em desvantagem e podem surgir o que se chama de “ciúmes do irmão”.

A forma como os pais reagem pode fazer uma diferença muito grande na forma como as crianças ultrapassam esta situação e aprendem a definir o seu lugar na família, sem se sentirem ameaçadas ou postas em causa pelo irmão.

Todas as crianças são diferentes e fazer comparações entre elas ou manifestar preferências, ainda que meramente descritivas ou positivas, podem levar a criança a sentir que os pais gostariam que ela fosse de outra forma. Evite-as ao máximo.

Na interacção entre os irmãos, defina os comportamentos que não são aceitáveis nunca (bater, morder, chamar nomes, humilhar, etc.), ajude-os a identificar as emoções que causam um no outro (e as próprias) e valorize os comportamentos que causam emoções positivas. Em caso de conflito, tente o mais possível não se envolver e deixá-los resolver sozinhos as questões. Interfira apenas em caso de agressão (física ou psicológica), não se exalte, evite acusações, converse calmamente com os dois, envolva-os na resolução da situação e, em caso de dúvida, não tome o partido de nenhum deles mas reforce a sua confiança em que, numa situação futura, saberão resolver a situação sozinhos.

Mantenha o mais possível os tempos únicos e de qualidade com cada um dos seus filhos, proponha-lhes tarefas em conjunto, reforce positivamente aquilo que cada um faz bem e ajude-os a conhecerem-se cada vez melhor. Reforce diariamente o amor incondicional que sente por cada um deles.

 

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