Amianto Não!
É tocante. A vida toda vi pais sacrificarem-se pela família, da forma mais brutal à mais subtil.
A mãe que educa sozinha, tem dois empregos e ainda vende cremes por catálogo.
O pai que trabalha durante a noite e passa o dia em claro, para controlar a febre ao miúdo.
Adultos que separam no frigorífico iogurtes de marca branca para si, e os mais caros para os mais pequenos, porque são melhores.
Gente que todos os dias de manhã, engraxa as botas aos filhos para parecerem como novas. Também conheço pais que após quinze horas encolhidos num avião, ainda passam no centro comercial para comprar o jogo que prometeram.
Outros que optam pelo casaco mais caro porque deve ser quente, impermeável e ter capuz.
Pais que pagam as aulas de instrumento e as explicações. Os que passam o domingo inteiro a fazer coisas de miúdos (só para depois se alimentarem dos sorrisos deles a semana inteira).
É assim. Todos os pais que conheço, de todas as camadas sociais, fazem o impossível pelos filhos, o melhor que podem e sabem.
Têm as emoções, as alegrias, as fraquezas e as angústias todas misturadas numa coisa estranha, que depois de terem um filho, nunca mais lhes saiu do peito.
E depois, há escolas com amianto. Crianças que respiram dentro delas.
Todos os gestos de amor que aprendi destes pais me parecem maiores (e todas as reformas educativas menores), quando penso que em Portugal ainda existem escolas com amianto nos telhados, nas paredes ou no pavimento.
Quando os problemas são complexos é sempre bom analisar perspectivas. O contacto com o amianto (também conhecido por asbestos) está associado a cancro do pulmão, da laringe, dos ovários e ao cancro gastrointestinal, entre outras patologias. A doença pode surgir até quarenta anos após a exposição (por isso não é tão mediática), e no caso de mesotelioma, resta apenas um ano sofrido de vida aos doentes, após o diagnóstico.
É certo que parte do trabalho foi feito. Muitas escolas foram intervencionadas para retirar o amianto (nem sempre da melhor forma, é certo), mas esse trabalho está manifestamente incompleto. Ainda assim, em janeiro de 2015 o então ministro da educação Nuno Crato deu por terminadas as obras de remoção.
Não há verba para a acautelar a saúde nas escolas que não foram eleitas pelo programa de reabilitação, nem sequer uma listagem atualizada que nos diga quais são elas, ou o que está a ser feito para monitorizar a questão.
Porque este é um tema sensível, usa-se muita cautela.
A Direção Geral de Saúde alega que o amianto, regra geral, não é perigoso quando se encontra em bom estado de conservação. Mas a Organização Mundial de Saúde não arrisca um valor mínimo de exposição que possamos considerar seguro. Não há plano de ação em Portugal que garanta a verificação regular dos edifícios, garantindo o controlo da situação ao nível da libertação de fibras para o ambiente, embora a Comissão Europeia encoraje os governos a fazê-lo com rigor.
O poder político não tem dado a devida a importância a uma questão que deveria ser prioritária.
Num seminário que a Quercos organizou sobre esta temática (já lá vão uns anos), a intervenção do Prof. Doutor José Alves, da Fundação Portuguesa do Pulmão, foi eficiente em separar o necessário do acessório. O médico defendeu claramente que “todas as pessoas que inalaram asbesto vão ter problemas de saúde, ” e que, perante a presença de asbesto, “há sempre perigo”.
A par do perigo inerente à exposição, são também conhecidos os riscos ligados à remoção, manuseamento e armazenamento do amianto, pelo facto de este libertar fibras que, uma vez inaladas se alojarão nos pulmões para sempre. Por essa razão, as placas de fibrocimento devem ser retiradas inteiras, porque a sua degradação multiplica em larga escala o risco de propagação das fibras. A formação técnica, o uso de vestuário adequado e a posterior descontaminação dos trabalhadores após o contacto com amianto, obrigam a que os trabalhos sejam operados por empresas certificadas e sob a vigilância da Autoridade para as Condições do Trabalho. É imprescindível evacuar as áreas alvo de remoção (de uma escola ou em qualquer outro edifício), até que as medições da qualidade do ar indiquem que é seguro “respirar” no local.
Os pais das crianças que frequentam estas escolas também devem fazer os impossíveis pelos seus, como tantos outros que conheço.
Mas os filhos deles são diferentes, porque na escola usam as mãos para arrancar dos corredores bocados de fibrocimento partido (material que contém amianto), para servir de baliza. As mesmas mãos que em casa vão abraçar o pai, a mãe e os irmãos. As mesmas mãos que seguram os livros para estudar, com muito afinco, para serem alguma coisa quando crescerem.
Não me sai da cabeça. Os pais a engraxarem as botas dos filhos, para eles depois eles chutarem a bola contra balizas feitas de amianto. Se não tivesse tanto respeito pelo dito terceiro mundo, faria agora comparações absurdas.
Mas não é preciso, para besta já basta este abesto. Todos os golos que passarem por ele serão sempre batota.
Agradecimento: Lode, pai de Oliver, Marcus e Elisabeth tirou as fotografias aos seus três pequenos, também eles filhos de Oliveira do Hospital.
Ajude-nos a resolver este problema denunciando-o nas redes sociais com hastag #amiantonao, e uma foto e localização da escola em questão.
Lembre-se de fazer uma cara bem feia, porque com o amianto não se brinca. Por vezes, para fazer o impossível, basta intervir.
Ajude assinando as petições:
Pelo fim do amianto nas escolas
Petição em defesa do Ambiente e da sustentabilidade nas escolas
Pela remoção do Amianto na Escola Básica Almirante Gago Coutinho
ESCOLA EB 2/3 ÁLVARO VELHO – BARREIRO | REMOÇÃO DO AMIANTO – SUBSTÂNCIA CANCERÍGENA
É URGENTE A REQUALIFICAÇÃO DA EB23 DE VIALONGA
PELA REQUALIFICAÇÃO URGENTE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DO LUMIAR
PELA REQUALIFICAÇÃO URGENTE DA ESCOLA BÁSICA DE BUCELAS
Petição em prol da Escola Secundária Manuel Cargaleiro
Remoção e Substituição das Placas de Fibrocimento na Escola Básica de S. Julião da Barra