Vamos hastear a bandeira do sentir na adolescência
É tão comum ouvir os adolescentes dizerem que se sentem neutros, ou seja, que evitam sentir, que me deixa pensativa que em pleno século XXI, onde existe uma infinita informação sobre inteligência emocional e consciência absoluta de aprendermos a lidar com as nossas emoções, os nossos adolescentes ainda tentarem escapar por entre as pontas dos dedos e colocar o corpo a fugir do que sentem!
Vamos hastear a bandeira do sentir na adolescência
O que não dói no coração, dói no corpo e manifesta-se em diferentes sintomas como ansiedade, raiva, distúrbios alimentares, entre outros, que não trazem nenhuma melhoria na qualidade de vida dos jovens!
Outro dia ouvi um médico a falar sobre a questão emocional ligada às doenças e dizia que as pessoas que adoecem são as que negam as suas emoções e as que desenvolvem adições são as que fogem. Não queremos nem uma coisa nem outra!
Todos sabemos que a adolescência é uma fase de um equilíbrio desequilibrado.
Que tudo tem muita intensidade e que se sentem invariavelmente “bipolares” nas suas oscilações de humor. Aliado ao mundo em que vivemos, onde:
Ora ignorar as subidas e descidas não é igual a dizer que elas não existem. É apenas um mecanismo de defesa, com certeza bem-sucedido, mas que os faz ter que viver a vida de forma mais alheada, menos enraizada e menos conscientes de si próprios.
É como se estivessem emocionalmente desencarnados, hasteando essa bandeira do Neutro que só os ajuda na dissimulação do sentir e que acaba por ser a dissimulação deles próprios. Eu sei que sentir com verdade é difícil. Eu sei que dói. Mas será que não dói muito mais, a médio prazo, ser figurante na própria vida?
- a imagem vale mais do que a essência;
- o que postamos nas redes sociais parece ser mais importante do que o que verdadeiramente somos e sentimos;
- a popularidade parece ser algum néctar dos deuses que todos querem alcançar;
- não se olham a meios para atingir fins…
Compreendo verdadeiramente o porque dos nossos jovens quererem estar “neutros”.
Acham eles, que assim se protegem do sentir, não alimentam expectativas e conseguem viver a vida como se a montanha russa do exterior não provocasse no interior a mesma sensação de estomago colado às costas.
A vulnerabilidade pertence aos fracos
Eu posso falar em causa própria. Fui educada a saber deitar para trás das costas as minhas emoções e andar para a frente. A minha querida mãe, com a melhor das intenções, não sabia ou não era capaz de nos ensinar a importância do sentir.
Hoje acho que sentia que isso nos tornava vulneráveis e que a vulnerabilidade pertence aos fracos. Foram muitos anos até compreender e desfazer esta crença tão limitadora e tão pouco verdadeira. Agora acredito ainda mais na exposição, na vulnerabilidade e na força que correr em direção a tudo o que nos mete medo trás consigo. Sentir, permitirmo-nos ser verdadeiros com o que somos, provoca medo sim, mas por isso nos fortalece tanto.
Gostava que os nossos adolescentes vissem essa força.
Para que tenham menos medo de deixarem de ser neutros para agarrarem a vida com as duas mãos, com o coração e com o corpo todo!
É que enquanto estamos neutros, não vivemos em pleno. Vamos sobrevivendo na dança entre o que finjo que não existe e como bloqueio o meu sentir. Afastamo-nos de nós próprios, somos pouco honestos connosco e com os outros e ficamos muito aquém de nos sentirmos realmente inteiros e felizes.
Vamos hastear a bandeira do sentir na adolescência e enterrar o estar neutro, porque daí não advém com certeza a nossa felicidade….
Considero a psicoterapia como uma ferramenta fundamental no desenvolvimento pessoal, na qualidade de vida e de relação com os outros. A psicoterapia é para todos e não apenas para alguns.