Ensinar às crianças que dar é tão bom quanto receber
Já se sentiu desiludido/a quando o seu filho se queixa do presente que recebe, é exigente, não reconhece os sacrifícios que faz por ele, e tem poucos (ou nenhuns) gestos de gratidão ou gentileza? Será que, por vezes, ele lhe parece…egoísta e insensível?
É verdade que sermos recompensados é uma parte importante da nossa valorização pessoal e da nossa autoestima, e devemos pensar que o merecemos; mas devemos não só ensinar às crianças que isso importa, como também ensiná-las a ser bondosas, carinhosas e preocupadas com os outros. Compreender esse poder de fazer o bem e retribuir, conduz também a uma maior autoestima, a um sentimento de pertença, bem-estar, paz e gratidão.
Assim, como é que podemos promover esta vontade que, independentemente daquilo que possamos receber e dos sorrisos que os outros nos trazem, é tão bom também fazer sorrir alguém?
Aqui ficam algumas dicas para ensinar às crianças o prazer de dar:
1) Trabalhar a empatia do seu filho
Ser empático é conseguir colocar-se no lugar do outro e perceber o que o outro pode estar a sentir e a pensar. Isto implica sair do nosso lugar e “calçarmos os sapatos” de outra pessoa. Assim, pode fazer pequenos exercícios (até com o exemplo de um presente que não correu bem!). Primeiro, no dia-a-dia, mostre como é ser empático com os sentimentos do seu filho, seja raiva, medo ou tristeza:
“Parece que não gostaste muito desse presente, não era bem isso que tu querias, pois não?” e, a seguir, faça-o entender os sentimentos dos outros “Sabes que a avó deu-te essas meias porque ela se preocupa contigo e quer que tu estejas quentinho.
De certeza que a avó teve de procurar muito bem, por muitas lojas, para encontrar essas meias para ti. Como achas que ela se ia sentir se te visse com essa cara a olhar para o presente que ela te ofereceu com tanto carinho? Como te ias sentir se desses um presente a alguém e essa pessoa fizesse essa cara? Achas que não há nada de bom nesse presente?”.
2) Ensinar as crianças a valorizar o que se recebe, a ser grato
Entusiasme-se com os gestos, os presentes, os favores que fazem por nós. Voltando ao presente, pode dizer, “Já viste quantas vezes vais poder usar essas meias? Vamos experimentá-las? Olha que giras e quentinhas, gostava de ter umas iguais para mim!“
3) Tomar a iniciativa em ser um exemplo e faça-o reparar em pequenos gestos de gentileza no dia-a-dia
“Já viste como a mãe gosta de ti e se preocupa contigo? Quanto te vai buscar à escola, carrega-te a mochila, porque não quero que fiques com as costas a doer.”
Observe os gestos que ele tem com os outros e comente:
“Gosto muito quando tu ajudas a tua irmã a arrumar os brinquedos. És muito gentil!”
4) Dar pequenas responsabilidades e tarefas em casa
Desta forma perceberá que todos têm um papel no cuidar de um bem comum.
5) Incentivar a usar as palavras e perguntas mágicas
- Obrigada, por favor, com licença, desculpe…
- Posso ajudar?
- Como te estás a sentir?
- Fiz alguma coisa de errado?
6) Promover a preocupação social
Reflita com ele sobre o bom que é sermos todos diferentes; a importância de cada um respeitar as diferenças dos outros; as injustiças sociais que acontecem (desigualdades, preconceitos, pobreza, discriminação…) e a importância de combatê-las.
7) Ler em conjunto livros que ensinem sobre a bondade
Ou conte histórias sobre crianças com realidades diferentes da do seu filho. Fale com a criança sobre a mensagem de cada história e como aplicar isso na vida dele. Discutam:
“Que coisas importantes podíamos fazer para sermos boas pessoas?”
8) Combinar com os seus filhos pequenos presentes ou ações de generosidade que ele possa fazer por alguém
Ir à farmácia comprar o medicamento para o avô; ajudar o irmão a fazer os TPC; levar algo para partilhar com um amigo; escrever um cartão de aniversário com palavras sentidas…
Envolva-o nos cuidados aos irmãos, aos meus velhos, fazer recados… Pode também envolvê-lo em voluntariado ou doações para ajudar a comunidade.
9) Ensinar as crianças a reparar as más ações
“O teu amigo está triste contigo. O que podes fazer para lhe mostrares que estás arrependido?”
10) Por fim, demonstre e incentive o afeto físico
(beijinhos, abracinhos e carinhos) e valorize os momentos em família.
Ana Santos – Psicóloga Centro Catarina Lucas
Conta com uma equipa multidisciplinar de cerca de 30 profissionais especializados em diversas áreas da psicologia e do desenvolvimento humano, prestando serviços nas áreas da psicologia para adultos, infantil e juvenil, aconselhamento parental, terapia de casal, terapia familiar, sexologia clínica, neuropsicologia, hipnose clínica, orientação vocacional, psiquiatria, terapia ocupacional, terapia da fala, nutrição, naturopatia, osteopatia, entre outros.